Os mares rasos que cercam os continentes estão desempenhando um papel invisível e decisivo na regulação do clima. Novas evidências indicam que essas águas funcionam como gigantescos sumidouros de carbono, capturando mais CO₂ do que liberam. A descoberta, publicada na revista Global Biogeochemical Cycles, revela um mecanismo natural impressionante, mas também um alerta preocupante para o equilíbrio dos oceanos.
Essas plataformas continentais, responsáveis por mais de 90% da produção mundial de frutos do mar, estão absorvendo carbono em ritmo crescente, impulsionadas pela ação de ventos e correntes sazonais. Esse processo ajuda a conter o aquecimento global, porém, como toda moeda, tem dois lados.
Quando o oceano ajuda o clima, mas sofre as consequências
Pesquisadores do Convex Seascape Survey analisaram 20 anos de dados de 14 plataformas em diferentes regiões do planeta. Eles descobriram que o transporte de carbono entre mares rasos e oceano profundo é determinado pela direção dos ventos, que empurram ou puxam o carbono através das bordas continentais. Esse movimento cria uma espécie de “bomba natural de carbono”, capaz de armazenar CO₂ por centenas ou até milhares de anos.

Contudo, o acúmulo de dióxido de carbono dissolvido tem consequências sérias:
- Aumenta a acidificação marinha, tornando o ambiente hostil para organismos calcários como corais, ostras e mexilhões;
- Afeta cadeias alimentares costeiras, ameaçando a biodiversidade;
- Compromete a segurança alimentar, já que a maioria dos frutos do mar vem dessas regiões.
Reduzir emissões é a única saída duradoura
Embora as plataformas continentais ajudem a frear os impactos das emissões, os cientistas alertam que essa absorção não é uma solução permanente. O CO₂ que os mares retêm é resultado direto das atividades humanas intensas, e sua continuidade acelera a acidificação e a perda de habitats costeiros.
O estudo, conduzido pela Universidade de Exeter em parceria com a Blue Marine Foundation, reforça uma mensagem central: sem a redução drástica das emissões globais, o papel protetor dos oceanos pode se tornar autodestrutivo. Manter os mares saudáveis é essencial não apenas para o clima, mas também para o futuro da alimentação no planeta.

