Cientistas descobrem por que pernas gigantes salvaram as girafas na savana

As longas pernas das girafas ajudam a economizar energia vital (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
As longas pernas das girafas ajudam a economizar energia vital (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Imagine sobreviver em um ambiente cheio de predadores enquanto precisa bombear sangue a mais de dois metros de altura para irrigar o cérebro. Essa é a rotina das girafas. Embora o pescoço longo seja a marca registrada do animal, uma nova pesquisa no Journal of Experimental Biology mostra que as pernas alongadas desempenham papel ainda mais crucial do que se imaginava.

Ao elevar o coração mais próximo da cabeça, as girafas reduzem o esforço cardíaco necessário para vencer a gravidade. Isso significa menor gasto energético para manter o cérebro abastecido, um fator decisivo em épocas de seca ou competição alimentar.

Em resumo, as longas pernas garantem:

  • Economia energética significativa no bombeamento sanguíneo;
  • Vantagem evolutiva ao acessar alimento alto em árvores;
  • Sobrevivência ampliada em períodos de escassez;
  • Desempenho cardiovascular superior a outros mamíferos grandes;
  • Maior eficiência reprodutiva ao longo do ano.

Quando simulações encontram a savana

Estudo revela como pernas longas tornam girafas mais eficientes (Imagem: Tobkatrina/ Canva Pro)
Estudo revela como pernas longas tornam girafas mais eficientes (Imagem: Tobkatrina/ Canva Pro)

Pesquisadores liderados por Graham Mitchell compararam a fisiologia da girafa com um animal hipotético, uma mistura de elande com pescoço de girafa, apelidado de “elafa”. O resultado foi surpreendente: esse “animal alternativo” gastaria 21% de sua energia total apenas para manter o coração funcionando, contra cerca de 16% nas girafas e pouco mais de 6% nos humanos.

Essa diferença corresponde à energia de mais de 1,5 tonelada de alimento por ano, demonstrando por que pernas longas surgiram primeiro na linhagem evolutiva da espécie. Antes de alongar o pescoço, a natureza alongou as pernas.

O preço da altura

Claro, esse design evolutivo tem custo. Para beber água, a girafa precisa abrir as patas dianteiras e baixar o pescoço, tornando-se vulnerável. Não à toa, estatísticas mostram que muitas girafas abandonam poços antes mesmo de beber, priorizando a segurança.

Girafas: pernas compridas são o verdadeiro segredo da sobrevivência (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Girafas: pernas compridas são o verdadeiro segredo da sobrevivência (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Ainda assim, o benefício supera o risco. A altura máxima alcançada pelo coração evita desperdício energético fatal, mantendo a girafa como o animal terrestre mais alto do planeta.

O limite do possível na natureza

O estudo também comparou a fisiologia das girafas com dinossauros gigantes como Giraffatitan. Se um saurópode tivesse de manter pressão arterial compatível com sua altura extrema, o coração gastaria mais energia do que todo o corpo, algo biologicamente inviável. Portanto, nenhum animal terrestre provavelmente superou a girafa em altura funcional ao longo da história.

A anatomia da girafa é um lembrete de como a evolução pode ser engenhosa e, ao mesmo tempo, limitada por leis físicas e biológicas. A sobrevivência da espécie depende tanto das pernas quanto do pescoço, e qualquer alteração drástica nesse equilíbrio poderia custar energia demais, ou a própria vida na savana.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.