Cientistas criam robô quase invisível capaz de realizar cirurgias dentro do corpo humano

Robô microscópico pode revolucionar diagnósticos e tratamentos médicos (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
Robô microscópico pode revolucionar diagnósticos e tratamentos médicos (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

Imagine uma tecnologia tão pequena que cabe facilmente dentro de uma célula humana, mas inteligente o suficiente para perceber o ambiente, tomar decisões e agir de forma autônoma. Esse cenário deixou o campo da ficção científica e passou a integrar a realidade científica. Pesquisadores desenvolveram um robô com menos de 1 milímetro, menor que um grão de sal, capaz de operar com computador, sensores e propulsão próprios.

Esse avanço representa um marco histórico para a microrrobótica aplicada à saúde, pois aproxima a engenharia do tamanho fundamental da biologia. Em outras palavras, a tecnologia passa a dialogar diretamente com as unidades que formam o corpo humano.

Desde o início, esse microrrobô se destaca por integrar, em um único sistema ultracompacto, a geração de energia própria por meio de células solares microscópicas, processamento computacional incorporado, ainda que em baixa velocidade, sensores ambientais capazes de responder a variações físicas e movimento autônomo em líquidos, sem a necessidade de fios ou controle físico direto.

Um novo patamar da engenharia em escala microscópica

Durante décadas, o maior desafio não foi apenas reduzir componentes eletrônicos, mas fazer tudo funcionar em conjunto, sem interferências, aquecimento excessivo ou perda de eficiência. O robô utiliza materiais comuns à indústria de microchips, protegidos por uma camada semelhante ao vidro, o que aumenta sua resistência em ambientes líquidos.

Três microrrobôs posicionados junto à asa de um inseto, destacando a escala. (Imagem: Maya Lassiter/Universidade da Pensilvânia)
Três microrrobôs posicionados junto à asa de um inseto, destacando a escala. (Imagem: Maya Lassiter/Universidade da Pensilvânia)

Além disso, seu sistema de locomoção dispensa hélices ou partes móveis tradicionais. A movimentação ocorre por interações elétricas com partículas do meio, permitindo deslocamento controlado mesmo em espaços extremamente reduzidos.

Microrrobôs e o futuro da medicina de precisão

Embora essa tecnologia ainda esteja em fase experimental, seu potencial médico é expressivo. No futuro, microrrobôs desse tipo poderão entregar medicamentos de forma altamente direcionada, atuar no monitoramento contínuo de tecidos e células em tempo real, auxiliar na reparação de nervos e microestruturas danificadas e, como consequência, reduzir a necessidade de procedimentos cirúrgicos invasivos. Esse conjunto de possibilidades aponta para uma medicina cada vez mais precisa, personalizada e menos agressiva ao paciente.

Os avanços agora se concentram em adaptar esses dispositivos a ambientes biológicos mais complexos, como água salgada e tecidos vivos, além de desenvolver sistemas nos quais múltiplos microrrobôs possam se comunicar e cooperar entre si. Com isso, a ciência avança de forma decisiva rumo a tecnologias médicas quase invisíveis, capazes de gerar impactos profundos no diagnóstico, no tratamento e na forma como a medicina será praticada nas próximas décadas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.