Calor extremo avança nos oceanos e ameaça vida marinha e clima da Terra

Oceanos entram em era instável e pressionam ecossistemas marinhos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Oceanos entram em era instável e pressionam ecossistemas marinhos (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O oceano, que por séculos funcionou como amortecedor climático do planeta, está entrando em um estado completamente novo. Um estudo publicado na Nature Climate Change indica que partes significativas das camadas superiores já não seguem o comportamento natural observado ao longo das últimas décadas. O avanço simultâneo do aquecimento, da acidificação, da perda de oxigênio e das mudanças na salinidade revela que o ambiente marinho está atravessando um limite crítico.

Essas mudanças, antes percebidas apenas de forma pontual, agora se combinam e se espalham por regiões inteiras. Para compreender a dimensão dessa virada, pesquisadores desenvolveram uma ferramenta capaz de identificar quando o oceano ultrapassa sua variabilidade tradicional. Principais transformações já identificadas:

  • Entre 30% e 40% dos primeiros 1.000 metros apresentam alterações marcantes;
  • Regiões como Atlântico tropical, Pacífico Norte, Mar Arábico e Mediterrâneo mostram mudanças estruturais;
  • O aquecimento contínuo reduz a estabilidade das camadas oceânicas;
  • A diminuição de oxigênio altera profundamente habitats essenciais;
  • A acidificação avança, afetando organismos calcificadores e redes alimentares inteiras.

Uma nova forma de enxergar o oceano em transformação

Mudanças profundas no mar acendem alerta climático global (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Mudanças profundas no mar acendem alerta climático global (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A análise integrada de múltiplos fatores (temperatura, salinidade, carbono dissolvido e oxigênio) permite observar que a superfície do oceano está deixando de responder apenas às oscilações naturais do clima. Em vez disso, avança rumo a um estado ambiental sem precedentes, impulsionado principalmente pelo acúmulo de calor e pela intensificação do efeito estufa.

Esse cenário traz implicações diretas para a vida marinha, uma vez que a combinação de variáveis altera habitats, força migrações e aumenta o risco de colapso em populações de peixes. Além disso, o enfraquecimento da circulação oceânica e a redução da absorção de carbono podem comprometer um dos principais mecanismos que regulam o clima global.

Consequências para ecossistemas, pesca e segurança alimentar

Com a intensificação dessas mudanças, espécies sensíveis podem perder áreas adequadas para sobrevivência, enquanto predadores e espécies comerciais se deslocam para regiões mais profundas ou distantes. Esse movimento gera instabilidade nos ecossistemas e pressiona comunidades que dependem da pesca.

Camadas oceânicas perdem equilíbrio e desafiam a vida no planeta (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Camadas oceânicas perdem equilíbrio e desafiam a vida no planeta (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Ao mesmo tempo, a menor capacidade dos oceanos de absorver calor e gás carbônico cria um ciclo preocupante: menos regulação climática significa aquecimento ainda mais rápido, fortalecendo eventos extremos e agravando o impacto ambiental.

O caminho para proteger o futuro dos oceanos

Os autores destacam a necessidade urgente de monitoramento contínuo, ampliação de áreas marinhas protegidas e políticas de adaptação baseadas em evidências. 

À medida que novas ferramentas científicas refinam a compreensão sobre o oceano em transição, torna-se mais claro que a proteção dos ambientes marinhos é fundamental para garantir estabilidade climática e segurança alimentar no futuro.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.