Astrônomos encontram objeto invisível em anel de Einstein a bilhões de anos-luz

Astrônomos detectam aglomerado invisível em anel de Einstein (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)
Astrônomos detectam aglomerado invisível em anel de Einstein (Crédito: Getty Images/ Canva Pro)

A astronomia acaba de registrar uma descoberta que pode redefinir o entendimento sobre a matéria escura, a misteriosa substância que mantém as galáxias coesas, embora seja invisível aos olhos e aos instrumentos tradicionais. Um objeto oculto, extremamente pequeno para os padrões cósmicos, foi identificado no interior de um anel de Einstein localizado a cerca de 10 bilhões de anos-luz da Terra. Trata-se de um provável aglomerado de matéria escura, o menor já detectado por meio do efeito de lente gravitacional.

Esse fenômeno raro ocorre quando a luz de uma galáxia distante é curvada pela gravidade de outra galáxia que está entre ela e o observador. No sistema B1938+666, essa curvatura formou um círculo luminoso quase perfeito, o chamado anel de Einstein. Porém, uma leve distorção nesse arco luminoso denunciou a presença de algo que não deveria estar ali: uma massa oculta, sem qualquer emissão de luz.

Principais destaques da descoberta:

  • Identificação do menor aglomerado de matéria escura já observado por lente gravitacional;
  • Objeto com massa de aproximadamente 1 milhão de Sóis;
  • Perturbação revelada por flutuações em ondas de rádio de alta resolução;
  • Apoio à teoria da matéria escura fria, que prevê pequenos agrupamentos invisíveis.

Quando o invisível interfere na luz

Ao analisar o anel de Einstein com uma rede de radiotelescópios, os cientistas identificaram uma leve distorção gravitacional ocultada no arco luminoso. (Crédito da imagem: Keck/EVN/GBT/VLBA)
Ao analisar o anel de Einstein com uma rede de radiotelescópios, os cientistas identificaram uma leve distorção gravitacional ocultada no arco luminoso. (Crédito da imagem: Keck/EVN/GBT/VLBA)

A relatividade geral de Einstein prevê que a gravidade altera o caminho da luz. Assim, mesmo estruturas que não brilham, como a matéria escura, podem ser detectadas pelo impacto gravitacional que causam. No caso de B1938+666, não foi uma imagem que revelou o objeto, mas uma sutil “torção” no anel luminoso.

Para confirmar essa anomalia, pesquisadores combinaram dados de observatórios em diferentes continentes, formando uma rede com capacidade de observação equivalente a um telescópio do tamanho da Terra. Isso permitiu distinguir um estreitamento específico no arco gravitacional, incompatível com a presença de estrelas ou gás visível.

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O que esse objeto representa?

A massa encontrada é significativa, mas bastante modesta em termos cósmicos. A importância não está em seu tamanho, mas em sua natureza invisível. Ele representa um indício concreto de que a matéria escura pode se concentrar em pequenos blocos isolados, e não apenas em grandes halos ao redor das galáxias. Isso fortalece a hipótese de que o universo é pontilhado por “ilhas escuras”, estruturas silenciosas que apenas a gravidade pode denunciar.

Consequências para a cosmologia

O sistema B1938+666 foi identificado ainda nos anos 1990. As primeiras imagens do anel de Einstein foram registradas por observações do Telescópio Espacial Hubble (esquerda) e, posteriormente, pela pesquisa Pan-STARRS (direita). (Crédito da imagem: Esquerda: NASA/HST/NICMOS, Direita: Pan-STARRS/F160W)
O sistema B1938+666 foi identificado ainda nos anos 1990. As primeiras imagens do anel de Einstein foram registradas por observações do Telescópio Espacial Hubble (esquerda) e, posteriormente, pela pesquisa Pan-STARRS (direita). (Crédito da imagem: Esquerda: NASA/HST/NICMOS, Direita: Pan-STARRS/F160W)

Até agora, apenas poucos objetos semelhantes foram identificados. A nova metodologia, publicada em periódicos como Nature Astronomy e Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, abre caminho para a descoberta de dezenas, ou talvez centenas, de aglomerados invisíveis. Com o avanço de telescópios como o James Webb, anéis de Einstein devem se tornar ferramentas decisivas para mapear a arquitetura oculta do universo.

Essa descoberta não fornece apenas uma resposta, mas levanta novas questões fundamentais:

  • Quantos desses aglomerados existem em nossa própria galáxia?
  • Eles influenciam a formação de estrelas e sistemas planetários?
  • Poderiam ser relictos do início do universo?

Cada detecção aproxima os cientistas de um mapa gravitacional completo, no qual a matéria escura deixa de ser um conceito abstrato e passa a ocupar coordenadas definidas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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