Aranhas usam padrões na teia para detectar presas com precisão

Decorações nas teias ajudam aranhas a localizar presas com precisão (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Decorações nas teias ajudam aranhas a localizar presas com precisão (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Um novo estudo reacende um antigo mistério da biologia: por que algumas teias de aranha exibem “decorações” de seda que formam padrões em zigue-zague ou círculos brilhantes? Pesquisas publicadas na PLOS One sugerem que essas estruturas, conhecidas como estabilimentais, não são meramente ornamentais, elas ajudam as aranhas a localizar presas presas em sua teia.

Esses estabilimentais aparecem em muitas espécies, como a aranha-vespa Argiope bruennichi, e há tempos intrigam os cientistas. Suas funções propostas vão desde o controle de temperatura até a camuflagem contra predadores. No entanto, o novo trabalho de Gabriele Greco, da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, mostra um aspecto inédito: seu papel na propagação das vibrações da teia.

Principais destaques do estudo:

  • As teias com estabilimentais modificam a maneira como as ondas vibratórias se espalham;
  • As simulações mostraram que certos padrões aumentam o número de pontos sensíveis à vibração;
  • Isso melhora a precisão com que a aranha identifica o local da presa capturada;
  • Em alguns casos, o efeito é sutil, mas suficiente para influenciar o comportamento de caça.

Vibrações que revelam o paradeiro da presa

Estabilimentais nas teias funcionam como sensores naturais de caça (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Estabilimentais nas teias funcionam como sensores naturais de caça (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A pesquisa combinou observações de campo e simulações numéricas para entender como as diferentes geometrias dos estabilimentais, como formas em cruz, espiral ou plataforma, interferem nas ondas que percorrem a teia.
Os resultados mostram que, quando a presa colide com a teia, as vibrações viajam por toda a estrutura. Em teias com estabilimentais, essas ondas se espalham de forma mais ampla e complexa, atingindo mais pontos sensoriais. Isso amplia o “mapa tátil” da aranha, permitindo que ela detecte com mais exatidão onde a vítima está presa.

Por outro lado, quando o impacto ocorre em ângulos específicos, os estabilimentais produzem atrasos mínimos na propagação das ondas, o que indica que a estrutura é otimizada para equilibrar sensibilidade e estabilidade.

Inspiração para novos materiais bioinspirados

Padrões na teia aumentam a capacidade da aranha de detectar presas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Padrões na teia aumentam a capacidade da aranha de detectar presas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Além de resolver parte do enigma biológico, a descoberta abre caminho para novas aplicações tecnológicas. O estudo sugere que materiais sintéticos inspirados nas teias de aranha poderiam ser desenvolvidos com propriedades elásticas e vibratórias ajustáveis, úteis em engenharia, sensores ou estruturas flexíveis que respondem a estímulos mecânicos.

Assim, algo que parecia puramente estético revela uma função sofisticada e adaptativa. As “decorações” das teias são, na verdade, ferramentas evolutivas de precisão, refinadas ao longo de milhões de anos para otimizar o instinto de caça das aranhas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.