Pesquisadores encontraram ar aprisionado há cerca de 6 milhões de anos em núcleos de gelo da Antártida, oferecendo o registro climático mais antigo obtido por datação direta. O material foi extraído de Allan Hills, região conhecida por conservar gelo azul praticamente intacto, graças ao frio extremo e ventos constantes, que impedem o acúmulo de neve e preservam bolhas microscópicas de ar.
Essas amostras funcionam como uma cápsula do tempo, permitindo reconstruir a atmosfera e o clima da Terra de períodos remotos e entender a evolução natural do planeta antes da ação humana.
Principais descobertas e insights:
- Gelo de 6 milhões de anos do final do Mioceno;
- Camadas adicionais do Plioceno, entre 5,3 e 2,6 milhões de anos;
- Indícios de temperaturas até 12 °C mais altas na Antártida antiga;
- Possibilidade de analisar concentrações de gases de efeito estufa;
- Sequência de registros que permite observar mudanças climáticas graduais.
Allan Hills: laboratório natural da Antártida
O sucesso da descoberta deve-se às condições extremas de Allan Hills. A combinação de ventos fortes e baixas temperaturas mantém o gelo praticamente intacto por milhões de anos, mesmo próximo à superfície. Perfurações entre 150 e 206 metros de profundidade permitiram a extração de bolhas microscópicas de ar, que contêm informações valiosas sobre o clima antigo e a composição atmosférica da Terra.

O estudo foi publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências, conduzido pelo projeto COLDEX, que utiliza a técnica de datação por isótopos de argônio, permitindo determinar a idade do gelo de forma precisa sem comparação com materiais externos.
Evidências de um planeta mais quente
As análises indicam que a Antártida experimentou um clima significativamente mais quente há milhões de anos, com resfriamento gradual até os níveis atuais. Essas informações ajudam os cientistas a compreender:
- Variações naturais de temperatura no planeta;
- Influência de gases de efeito estufa antes da era industrial;
- Padrões climáticos de períodos de aquecimento global pré-históricos.
Além disso, essas descobertas oferecem referências cruciais para modelagens climáticas atuais, ajudando a prever como o planeta pode reagir às mudanças ambientais contemporâneas.
O futuro das expedições
Pesquisadores planejam novas missões entre 2026 e 2031, com o objetivo de perfurar camadas mais profundas e recuperar registros ainda mais antigos. Esses núcleos de gelo podem revelar informações sobre:
- Clima da Terra há dezenas de milhões de anos;
- Evolução da atmosfera e da composição química;
- Eventos geológicos e impactos de meteoritos.
A Antártida se confirma como um laboratório natural único, essencial para entender não apenas a história do clima terrestre, mas também os mecanismos que moldaram o planeta como o conhecemos.

