Soldados romanos sofriam infecções intestinais graves perto da Muralha de Adriano

Parasitas enfraqueciam soldados romanos em Vindolanda. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
Parasitas enfraqueciam soldados romanos em Vindolanda. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

Uma recente pesquisa arqueológica na fortaleza romana de Vindolanda, localizada próximo à Muralha de Adriano, revelou que os soldados que defendiam a região estavam infestados por parasitas intestinais. Este estudo, conduzido por pesquisadores das universidades de Cambridge e Oxford e publicado na revista Parasitology, mostra que os ocupantes do forte enfrentavam desafios de saúde graves, mesmo com sistemas de esgoto e latrinas comunitárias.

A análise dos sedimentos do bloco de latrinas do século III d.C. identificou três tipos principais de parasitas:

  • Lombriga (verme redondo de 20 a 30 cm);
  • Tricocéfalo (verme de cerca de 5 cm);
  • Giardia duodenalis (protozoário microscópico causador de diarreia).

Todos esses agentes são transmitidos via rota fecal-oral, geralmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados ou contato direto com fezes humanas.

Como os parasitas foram descobertos?

Giardia e vermes antigos afetavam a saúde militar romana. (Imagem: Marissa Ledger)
Giardia e vermes antigos afetavam a saúde militar romana. (Imagem: Marissa Ledger)

O estudo analisou 50 amostras de sedimentos coletadas ao longo do canal de drenagem das latrinas, que transportava os dejetos até um riacho próximo. Os pesquisadores realizaram análises microscópicas em Cambridge e Oxford para detectar ovos de helmintos e utilizaram ensaio imunoenzimático (ELISA) para identificar protozoários como a giárdia.

O achado é notável, pois é a primeira evidência de Giardia duodenalis na Grã-Bretanha romana. Além disso, amostras de um forte anterior, do século I d.C., confirmaram a presença contínua de lombrigas e tricocéfalos, mostrando que essas infecções eram comuns entre os soldados ao longo do tempo.

Impactos na saúde dos soldados romanos

Esses parasitas causavam efeitos severos na saúde dos soldados, incluindo diarreia e cólicas frequentes, além de desnutrição e perda de peso devido à absorção comprometida de nutrientes.

Descoberta histórica mostra doenças intestinais na Britânia romana. (Imagem: Vindolanda Trust)
Descoberta histórica mostra doenças intestinais na Britânia romana. (Imagem: Vindolanda Trust)

A infestação também provocava fadiga extrema, comprometendo a capacidade de combate e a resistência física. A presença de Giardia duodenalis podia gerar surtos simultâneos entre dezenas de soldados, principalmente no verão, e o ambiente do forte favorecia a propagação de outros patógenos intestinais, como Salmonella e Shigella.

Vindolanda revela como parasitas transformavam a vida dos soldados romanos

Vindolanda já era famosa por seus artefatos bem preservados, como tábuas de madeira com registros diários e milhares de sapatos romanos de couro. Agora, a descoberta de parasitas antigos adiciona uma dimensão de saúde pública à compreensão da vida militar romana, mostrando que mesmo com tecnologia básica de saneamento, a vida em fronteira romana era marcada por doenças debilitantes.

Esses achados ampliam nosso entendimento sobre como condições sanitárias e estilo de vida influenciavam a saúde dos antigos soldados, oferecendo insights únicos sobre patógenos históricos e sua evolução ao longo do tempo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.