A matéria escura continua sendo um dos maiores enigmas da ciência moderna. Invisível, indetectável diretamente e dominante na estrutura do cosmos, essa substância misteriosa pode finalmente estar mais perto de ser compreendida graças às observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST). Ao olhar profundamente para o Universo primitivo, o telescópio revelou algo inesperado: galáxias jovens com formatos alongados e filamentosos, desafiando teorias consolidadas da cosmologia.
Essas estruturas incomuns não são apenas curiosidades visuais. Pelo contrário, elas podem funcionar como verdadeiros fósseis cósmicos, preservando informações cruciais sobre o tipo de matéria escura que moldou o nascimento das primeiras galáxias. Estudos recentes publicados na revista Nature Astronomy, liderados por pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona e do Centro Internacional de Física de Donostia, indicam que a resposta pode estar justamente nessas formas inesperadas. Logo após as primeiras observações, alguns pontos chamaram a atenção dos cientistas:
- A matéria escura representa cerca de 85% da matéria do Universo;
- O JWST observou um número elevado de galáxias primitivas alongadas;
- Modelos tradicionais não conseguem explicar essas formas;
- Simulações alternativas apontam novos candidatos para a matéria escura.
Quando a forma das galáxias vira pista científica
De acordo com o modelo cosmológico mais aceito, conhecido como Matéria Escura Fria, as galáxias deveriam se formar de maneira relativamente compacta e arredondada. No entanto, o que o JWST está mostrando é um cenário diferente: estruturas longas, finas e interligadas, especialmente nos primeiros bilhões de anos após o Big Bang.

Essa discrepância sugere que a matéria escura pode não se comportar como se imaginava. Em vez de partículas lentas e pontuais, ela pode apresentar propriedades ondulatórias ou velocidades maiores, influenciando a distribuição do gás e das estrelas desde o início do Universo.
Axions e neutrinos entram no centro do debate
As novas simulações testaram diferentes cenários e revelaram dois candidatos promissores. O primeiro envolve axions ultraleves, partículas hipotéticas que apresentam comportamento quântico coletivo. Nesse caso, a matéria escura se organiza em filamentos suaves, favorecendo a formação de galáxias alongadas.
O segundo cenário considera a chamada matéria escura quente, possivelmente formada por neutrinos estéreis, partículas rápidas que dificultam a formação de estruturas pequenas no início do cosmos. Em ambos os modelos, o resultado final é semelhante ao observado pelo JWST: galáxias esticadas, conectadas por filamentos delicados.
Um novo caminho para desvendar o invisível
Essas descobertas não encerram o mistério da matéria escura, mas representam um avanço significativo. Ao conectar observações reais com simulações teóricas, os cientistas passam a ter uma ferramenta concreta para testar hipóteses antes puramente especulativas.
À medida que o James Webb continua explorando o Universo primordial, cada nova galáxia observada pode funcionar como uma peça adicional desse quebra-cabeça cósmico. A matéria escura, embora invisível, pode estar deixando marcas claras na arquitetura do Universo, visíveis agora como nunca antes.

