Hubble flagra o momento exato da morte de uma estrela comum

Hubble registra a despedida rápida de uma estrela como o Sol (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
Hubble registra a despedida rápida de uma estrela como o Sol (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

Poucos fenômenos cósmicos são tão breves e ao mesmo tempo tão reveladores quanto a morte de uma estrela de baixa massa. Em uma imagem impressionante registrada pelo Telescópio Espacial Hubble, astrônomos conseguiram capturar exatamente esse momento de transição extrema na Nebulosa da Cabaceira (Calabash), um evento que dura apenas um piscar de olhos em escala astronômica, mas carrega pistas valiosas sobre o futuro do nosso próprio Sol.

Essa estrela está deixando para trás a fase de gigante vermelha e caminhando para se tornar uma nebulosa planetária, um processo marcado pela expulsão violenta de suas camadas externas de gás e poeira interestelar. O material recém-ejetado viaja em direções opostas a velocidades que chegam a quase um milhão de quilômetros por hora, moldando estruturas complexas e altamente energéticas. Logo após esse estágio inicial, alguns aspectos se destacam:

  • Perda acelerada de massa estelar, essencial para a formação da nebulosa;
  • Jatos bipolares de gás, responsáveis pelo formato incomum da nebulosa;
  • Curto intervalo evolutivo, raramente observado com tamanha clareza.

Uma metamorfose rápida e decisiva

Durante bilhões de anos, estrelas de baixa massa queimam hidrogênio de forma estável. No entanto, quando esse combustível se esgota, o equilíbrio interno se rompe. A estrela se expande drasticamente, tornando-se uma gigante vermelha, até que a gravidade não consegue mais manter suas camadas externas presas ao núcleo.

Imagem rara mostra estrela liberando gás e poeira no espaço (Imagem: ESA/Hubble e NASA; Agradecimento: Judy Schmidt)
Imagem rara mostra estrela liberando gás e poeira no espaço (Imagem: ESA/Hubble e NASA; Agradecimento: Judy Schmidt)

Nesse estágio, ocorre uma liberação intensa de matéria para o espaço ao redor. A interação entre ventos estelares rápidos e material mais antigo cria formas simétricas e altamente dinâmicas, como as observadas na Nebulosa da Cabaceira. Esse processo prepara o cenário para a formação de uma nebulosa planetária completa, algo esperado para ocorrer nos próximos mil anos.

Um instante raro que revela o ciclo de vida das estrelas

Capturar esse momento específico é raro porque a transição ocorre de forma extremamente rápida, o que torna esse tipo de observação especialmente valioso para a ciência. Registros como esse ajudam a compreender a evolução final das estrelas semelhantes ao Sol, a origem dos elementos químicos que enriquecem o meio interestelar e os mecanismos que influenciam a formação de novas estrelas e planetas

Além disso, esse fenômeno fornece modelos reais para prever como poderá ser o destino do Sistema Solar daqui a alguns bilhões de anos. A imagem registrada pelo Hubble vai além do impacto visual, pois representa um capítulo essencial da astrofísica estelar, conectando nascimento, transformação e reciclagem da matéria no Universo, e ajudando a revelar como o cosmos se renova continuamente.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.