JWST revela buraco negro gigante descontrolado atravessando o espaço

Buraco negro supermassivo em fuga deixa rastro de estrelas e gás. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
Buraco negro supermassivo em fuga deixa rastro de estrelas e gás. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

Cientistas acabam de confirmar o primeiro buraco negro supermassivo (SMBH) em fuga, um fenômeno previsto teoricamente há décadas, mas nunca observado de forma definitiva. Localizado na galáxia conhecida como Coruja Cósmica, a descoberta foi possível graças às observações precisas do Telescópio Espacial James Webb (JWST) e do Hubble. Este buraco negro, com centenas de milhões de massas solares, está deixando um rastro impressionante de gás e estrelas, demonstrando a força extrema desses objetos cósmicos. A identificação de um SMBH fugitivo envolve características únicas:

  • Rastro linear de 62 kpc (~200.000 anos-luz) formado pelo deslocamento do buraco negro;
  • Onda de choque supersônica detectada na ponta da cauda, evidência da interação do buraco negro com o meio interestelar;
  • Formação de novas estrelas ao longo da cauda, resultado do acúmulo de gás devido à menor pressão em relação à onda de choque.

Essa combinação de fatores permitiu aos astrônomos confirmar que não se trata apenas de uma teoria, mas de um buraco negro realmente em fuga.

Como um buraco negro pode escapar de sua galáxia?

JWST confirma primeiro buraco negro errante em galáxia distante. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
JWST confirma primeiro buraco negro errante em galáxia distante. (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

Existem dois mecanismos naturais capazes de conferir a um buraco negro supermassivo (SMBH) a velocidade necessária para escapar do centro de sua galáxia. O primeiro é a interação de três corpos, que ocorre quando três buracos negros se encontram e a dinâmica gravitacional entre eles pode expulsar um deles do núcleo galáctico

O segundo é o recuo causado por ondas gravitacionais, que acontece após a fusão de dois buracos negros e gera um impulso capaz de desalojar o SMBH. Ambos os processos ocorrem naturalmente durante fusões de galáxias, uma vez que os buracos negros das galáxias originais acabam interagindo no centro da galáxia resultante.

JWST e Hubble: revelando detalhes do fugitivo

O JWST/NIRSpec capturou não apenas a imagem, mas também espectros que permitiram analisar a composição, temperatura e movimento do gás ao redor do buraco negro. Os dados confirmaram a presença de uma onda de choque supersônica, com gradientes de velocidade de aproximadamente 600 km/s em apenas 1 kpc, consolidando a identificação do RBH-1, o primeiro buraco negro descontrolado confirmado.

Encontrar este primeiro SMBH em fuga é apenas o começo. Levantamentos futuros com mapas Euclid e Roman prometem identificar outros buracos negros errantes, permitindo estudar como esses gigantes interagem com o espaço interestelar e influenciam a formação de novas estrelas. Apesar de impressionante, a descoberta não representa perigo algum para a Terra, mas reforça a complexidade e o dinamismo do Universo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.