Em um passado remoto, quando o universo ainda dava seus primeiros passos, uma galáxia longínqua já produzia estrelas a uma velocidade inimaginável. Novas observações feitas com telescópios de alta precisão revelaram que essa “fábrica de estrelas” superaquecida pode ter sido uma das grandes responsáveis por acelerar o crescimento das primeiras galáxias.
A descoberta foi liderada por uma equipe internacional de astrônomos, que analisou a galáxia MACS0416_Y1, ou simplesmente Y1, localizada a mais de 13 bilhões de anos-luz da Terra. O estudo, publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, mostra que essa galáxia forma estrelas cerca de 180 vezes mais rápido que a Via Láctea, um ritmo que desafia os modelos tradicionais de evolução cósmica. Principais pontos da descoberta:
- Y1 está entre as galáxias mais antigas já observadas, vista como era logo após o Big Bang;
- Sua poeira cósmica brilha em temperaturas extremamente altas;
- O ritmo de formação estelar supera em mais de cem vezes o da Via Láctea;
- As medições foram realizadas com o poderoso telescópio ALMA, no Chile;
- O fenômeno pode explicar o excesso de poeira observado em galáxias jovens.
O calor das primeiras estrelas
As observações indicam que Y1 abriga nuvens de poeira a cerca de 90 Kelvin, ou –180 °C. Apesar de parecer fria, essa temperatura é anormalmente alta para galáxias desse tipo. Esse superaquecimento indica uma atividade estelar intensa, na qual nascem estrelas em série dentro de densas nuvens de gás comprimido, uma verdadeira fornalha cósmica.

Esse ambiente extremo ajuda a resolver um antigo enigma: por que galáxias tão jovens exibem tanta poeira interestelar, se não tiveram tempo suficiente para produzi-la? A resposta pode estar justamente na poeira quente e brilhante de fábricas estelares como Y1, cuja luminosidade mascara a escassez de elementos pesados.
O que Y1 ensina sobre o passado do cosmos
A galáxia Y1 oferece um vislumbre de como o universo primordial funcionava. Durante seus primeiros bilhões de anos, ele pode ter abrigado várias galáxias semelhantes, com explosões curtas e intensas de formação estelar. Cada uma dessas fases teria contribuído para o enriquecimento do espaço com poeira e elementos que, mais tarde, dariam origem a estrelas como o Sol e planetas como a Terra.
Por isso, Y1 não é apenas uma curiosidade astronômica é uma janela para o início do tempo, capaz de revelar como a matéria comum se organizou em estruturas complexas.
A busca por outras fábricas de estrelas
Os cientistas agora planejam usar telescópios como o James Webb Space Telescope (JWST) e o ALMA para encontrar outras galáxias semelhantes. Entender quantas dessas fábricas estelares extremas existiram e por quanto tempo elas permaneceram ativas será essencial para reconstruir a história da formação das galáxias e compreender como o cosmos se transformou no que conhecemos hoje.

