O acesso a ambientes naturais deixou de ser apenas um benefício estético ou recreativo: pesquisas recentes mostram que ele exerce impacto direto na saúde mental, chegando a reduzir internações hospitalares. Uma análise global, publicada na edição climática do The BMJ, acompanhou 11,4 milhões de internações psiquiátricas ao longo de duas décadas em 6.842 localidades de sete países. Os resultados indicam que mais vegetação no entorno urbano ou rural está consistentemente associada a menor risco de hospitalizações por transtornos mentais.
Estudos de grande escala como este evidenciam padrões claros:
- Redução de 7% nas internações gerais por transtornos mentais;
- Diminuição de 9% em casos de transtornos por uso de substâncias;
- 7% a menos em hospitalizações por transtornos psicóticos;
- Redução de 6% em internações por demência;
- Benefícios mais expressivos em áreas urbanas densamente povoadas.
Por que o verde é protetor para a mente?
A exposição a vegetação influencia múltiplos fatores que afetam a saúde mental: diminuição do estresse, aumento do bem-estar emocional, estímulo à atividade física e interação social. A análise utilizou o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), que quantifica a cobertura vegetal a partir de imagens de satélite, garantindo precisão nos resultados.

Curiosamente, os efeitos variaram entre países. Brasil, Chile e Tailândia mostraram associações protetoras robustas, enquanto Austrália e Canadá registraram resultados mais modestos para certos transtornos. Isso sugere que cultura, clima e hábitos locais influenciam a forma como a população se beneficia dos espaços verdes.
Impacto em centros urbanos
O estudo revela que a verdadeira força do verde se manifesta nos centros urbanos, onde o estresse cotidiano e a densidade populacional aumentam a vulnerabilidade mental. Estimativas indicam que um incremento de 10% na vegetação urbana poderia reduzir internações psiquiátricas de 1 por 100.000 habitantes na Coreia do Sul até 1.000 por 100.000 na Nova Zelândia.
Além disso, variações sazonais influenciam o efeito protetor: clima, temperatura e precipitação podem intensificar ou atenuar os benefícios da vegetação, especialmente em transtornos graves que exigem hospitalização.
Benefícios sociais e pesquisas futuras
Investir em parques, florestas e áreas arborizadas não é apenas uma medida ambiental, mas também uma estratégia econômica e social. Menos hospitalizações significam redução de custos médicos, alívio sobre os sistemas de saúde e aumento da produtividade da população. Planejamento urbano orientado à saúde pode transformar cidades em ambientes mais resilientes e sustentáveis.
Pesquisas futuras devem detalhar tipos de vegetação, desde parques urbanos até florestas naturais, avaliando como qualidade, acessibilidade e tamanho influenciam os resultados de saúde mental. Essa compreensão permitirá desenvolver políticas públicas eficazes, promovendo bem-estar psicológico e prevenção de transtornos em escala global.Em resumo, ter áreas verdes próximas à população não é luxo, mas um componente essencial de prevenção de transtornos mentais, trazendo impactos significativos para a saúde pública, economia e qualidade de vida.

