A Mata Atlântica, um dos biomas mais biodiversos do planeta, enfrenta desafios graves de degradação. Apesar de projetos de restauração florestal em larga escala, plantar árvores isoladamente não garante que essas áreas se integrem à paisagem original. Pesquisas recentes publicadas no Journal of Applied Ecology, conduzidas por Débora Cristina Rother (UFSCar) e Carine Emer (Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Instituto Juruá), revelam que a recuperação funcional da floresta exige uma abordagem mais complexa e estratégica.
Principais descobertas do estudo:
- Áreas restauradas apresentam comunidades vegetais distintas dos fragmentos nativos;
- Espécies generalistas com sementes pequenas conectam parcialmente a paisagem;
- A teoria de redes permite analisar interações ecológicas entre plantas e animais;
- A conectividade e o aninhamento nas áreas replantadas ainda são baixos;
- Técnicas complementares, como refaunação e poleiros artificiais, podem acelerar a integração.
Redes ecológicas são a chave para entender a restauração
A aplicação da teoria de redes na ecologia permite enxergar a floresta como um sistema interconectado. Cada espécie funciona como um “nó”, e suas interações com outras espécies formam conexões essenciais para a estabilidade do ecossistema. Essa abordagem ajuda a identificar quais plantas e animais são cruciais para a resiliência da paisagem, destacando a importância de espécies pioneiras e dispersoras.

Limites do plantio de árvores
O estudo mostra que o plantio ativo de mudas não reproduz a diversidade natural da Mata Atlântica. Fragmentos restaurados possuem baixa conectividade, modularidade intermediária e pouco aninhamento, indicando que ainda não refletem a complexidade ecológica original. Espécies-chave, geralmente pioneiras com sementes pequenas, dependem de pássaros e pequenos mamíferos para dispersão, mas muitas plantas raras e de sementes grandes permanecem isoladas.
Estratégias para restauração funcional
Para que a restauração seja eficaz, é necessário ir além do simples plantio:
- Combinar espécies pioneiras com espécies raras de sementes grandes;
- Incentivar a dispersão natural por aves e mamíferos;
- Criar poleiros artificiais para atrair dispersores;
- Reintroduzir animais extintos localmente (refaunação);
- Produzir mudas de espécies menos comuns em escala comercial.
Essas estratégias fortalecem a integração das áreas restauradas e promovem processos ecológicos essenciais, como sucessão natural, polinização e dispersão de sementes.
O estudo reforça a necessidade de políticas que incentivem a diversidade funcional na restauração florestal, alinhando objetivos à Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. A restauração eficaz depende de combinar ciência, produção de mudas e manejo da fauna, garantindo que fragmentos e áreas replantadas formem uma metarrede conectada, capaz de sustentar a biodiversidade e os serviços ecológicos da Mata Atlântica.

