Uma nova página da exploração espacial europeia começa a ser escrita. A sonda JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer), lançada pela Agência Espacial Europeia em 2023, iniciou em novembro uma missão inesperada: observar o cometa 3I/ATLAS, o terceiro visitante interestelar já identificado cruzando o Sistema Solar. Mesmo a caminho de Júpiter, a espaçonave aproveita sua rota para capturar dados preciosos sobre um corpo celeste que veio de fora da nossa estrela.
A oportunidade surgiu durante a fase de cruzeiro interplanetário, quando a sonda ajusta sua trajetória em direção às luas geladas Ganimedes, Calisto e Europa. Entre 2 e 25 de novembro, cinco instrumentos de sensoriamento remoto da JUICE serão usados para coletar imagens e espectros do cometa. Confira os destaques da campanha:
- Observações remotas do cometa 3I/ATLAS durante todo o mês de novembro;
- Uso de câmera e espectrômetros para análise química e mineralógica;
- Operação em janelas curtas devido à proximidade com o Sol;
- Dados transmitidos lentamente, com análise completa prevista para 2026;
- Nenhum risco de colisão com a Terra.
JUICE será utilizada pela ESA para realizar observações do cometa 3I/ATLAS
A sonda JUICE não foi projetada para estudar cometas, muito menos objetos interestelares. No entanto, a configuração orbital atual e a posição do 3I/ATLAS após o periélio (momento de maior aproximação do Sol) abriram uma janela rara de observação. Mesmo distante, os instrumentos da JUICE são capazes de captar assinaturas químicas e variações de brilho que ajudam a decifrar a estrutura e a composição do visitante.

A análise será demorada, a transmissão de dados leva meses, mas a recompensa científica é imensa. Os resultados poderão revelar como se formam os cometas em outros sistemas estelares, comparando sua “receita” com os corpos nativos do Sistema Solar. Essa comparação ajuda a compreender como a água e as moléculas orgânicas podem ter sido transportadas para mundos rochosos, contribuindo para a origem da vida.
Descoberto em 2023, o 3I/ATLAS segue uma trajetória que o levará novamente ao espaço interestelar depois de cruzar a órbita de Marte e se distanciar do Sol. Mesmo longe da Terra, sua presença oferece um laboratório natural para estudar materiais primordiais formados em torno de outras estrelas.
A missão JUICE, ao incluir essa campanha improvisada, reforça uma tendência da astrofísica moderna: aproveitar cada oportunidade para produzir ciência de alto impacto. Essa estratégia maximiza o retorno científico de missões longas e caríssimas, sem comprometer seus objetivos principais. Além disso, as mesmas tecnologias de imagem e espectroscopia usadas para estudar o cometa também alimentam avanços em monitoramento ambiental, diagnóstico médico por imagem e observação da Terra.
Quando ciência e acaso se encontram
Mesmo que os resultados completos só cheguem em 2026, a campanha já representa um marco. Observar um cometa interestelar com uma sonda a caminho de Júpiter une três frentes científicas em um único evento: o estudo da origem dos cometas, a formação dos sistemas planetários e o aperfeiçoamento dos instrumentos espaciais. Cada dado coletado ajuda a entender como os blocos fundamentais da vida viajam entre as estrelas e como mundos habitáveis podem surgir em meio ao caos cósmico.

