Na imensidão dourada da Reserva Nacional Maasai Mara, no Quênia, um filhote de zebra chamou atenção por um motivo inusitado: em vez das clássicas listras pretas e brancas, exibia bolinhas claras sobre um fundo escuro. O caso, registrado recentemente por um fotógrafo de vida selvagem, reacendeu o interesse de biólogos em compreender como mutações genéticas podem alterar o padrão visual de espécies icônicas da savana africana.
A zebra, batizada de Tira, apresenta uma condição conhecida como pseudomelanismo, um tipo de mutação genética rara que afeta o modo como o pigmento é distribuído na pele e nos pelos. Embora visualmente encantadora, a anomalia levanta preocupações sobre a sobrevivência desses animais em seu ambiente natural.
Principais pontos sobre o caso:
- A zebra nasceu no Maasai Mara, um dos ecossistemas mais biodiversos da África;
- Seu padrão de bolinhas é causado por falhas na expressão da melanina;
- Casos semelhantes já foram observados em Botsuana e Tanzânia;
- A condição pode comprometer sua camuflagem e aumentar o risco de predação;
- O fenômeno oferece pistas sobre a evolução das listras em zebras.
Quando a genética muda o visual da natureza
A coloração incomum de Tira é resultado de alterações nos melanócitos, células responsáveis por produzir melanina, o pigmento que define tons de pele e pelos em mamíferos. Em zebras normais, esses pigmentos formam o padrão listrado característico. No entanto, pequenas falhas genéticas podem gerar distribuições irregulares, como manchas ou bolinhas.

Esse tipo de variação, embora natural, é extremamente raro. Em geral, os filhotes com pseudomelanismo não chegam à idade adulta. A coloração diferente pode torná-los mais visíveis para predadores e também mais vulneráveis a moscas que picam, já que estudos apontam que as listras ajudam as zebras a repelir esses insetos transmissores de doenças.
Desafios para a sobrevivência na savana
O futuro de Tira é incerto. Além dos predadores, há desafios ambientais e comportamentais. Pesquisas na África do Sul indicam que zebras com padrões anômalos podem integrar-se normalmente aos bandos, mas isso depende de fatores como a aceitação do grupo e a capacidade de adaptação. Caso consiga sobreviver até a fase adulta, Tira poderá reproduzir-se e transmitir parte de sua variação genética, o que interessa diretamente à pesquisa evolutiva.
Estudos recentes conduzidos por equipes da Universidade da Califórnia e do Instituto HudsonAlpha para Biotecnologia mostram que investigar essas anomalias é crucial para entender a plasticidade genética de populações selvagens. Além de revelar os mecanismos por trás das listras, esses casos contribuem para monitorar mudanças evolutivas e ambientais nas espécies africanas.
Em última análise, Tira é mais do que uma curiosidade fotogênica é um símbolo da complexidade genética da vida selvagem e um lembrete de como a natureza continua a surpreender, mesmo em espécies que pensamos conhecer bem.

