3I/ATLAS impressiona cientistas com aceleração misteriosa no Sistema Solar

Cometa 3I/ATLAS muda cor e acelera de forma inesperada no espaço (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Cometa 3I/ATLAS muda cor e acelera de forma inesperada no espaço (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O cometa interestelar 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar confirmado a cruzar o Sistema Solar, tem chamado a atenção da comunidade científica por mudanças inesperadas em sua aparência e comportamento. Detectado em julho por astrônomos do Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS), o objeto vem sendo monitorado como uma verdadeira cápsula do tempo, contendo material que pode remontar aos primeiros bilhões de anos do Universo.

O estudo recente disponível no arXiv indica que o cometa apresentou mudança de cor e uma aceleração adicional não explicada apenas pela gravidade. Estes fenômenos oferecem pistas valiosas sobre sua composição e os processos físicos que ocorrem quando um corpo interestelar se aproxima do Sol.

Principais descobertas do cometa 3I/ATLAS:

  • Mudança de cor, tornando-se mais azulado em relação ao Sol;
  • Aumento súbito de brilho, visível até com binóculos;
  • Ejeção de gases e poeira, gerando perda de massa e plumas;
  • Evidência de aceleração não gravitacional, possivelmente causada por empuxo natural;
  • Potencial para estudar a origem e composição química de cometas interestelares.

Transformações visuais e químicas

À medida que o cometa se aproximou do periélio, alcançado em 29 de outubro, instrumentos como STEREO, SOHO e o satélite GOES-19 captaram mudanças marcantes. A superfície do 3I/ATLAS mostrou transformações químicas que alteraram sua cor e aumentaram significativamente seu brilho, fenômeno incomum em cometas originários da Nuvem de Oort.

Visitante interestelar revela brilho intenso e plumas de gás incomuns (Imagem: ExoMars TGO image of comet 3I/ATLAS)
Visitante interestelar revela brilho intenso e plumas de gás incomuns (Imagem: ExoMars TGO image of comet 3I/ATLAS)

Essas alterações indicam processos de sublimação e liberação de gases, nos quais o calor solar evapora o gelo interno do cometa, ejetando material que forma uma pluma visível. O fenômeno também gera um impulso natural, explicando parcialmente a aceleração detectada pelos cientistas.

Aceleração não gravitacional: um foguete natural

Os dados sugerem que o 3I/ATLAS está acelerando de maneira que a gravidade do Sol não consegue explicar completamente. Esse impulso decorre da ejeção intensa de gases e partículas, transformando o núcleo do cometa em um verdadeiro foguete natural. Estima-se que, nesse processo, o objeto possa perder até 10% de sua massa total em poucos meses.

A observação dessas plumas, além de monitorar a evolução do brilho, oferece uma oportunidade única para estudar interações de corpos interestelares com radiação solar e forças físicas complexas, podendo revelar detalhes sobre a composição e estrutura do núcleo do cometa.

Monitoramento e previsões futuras

Embora ainda exista incerteza sobre o comportamento exato do 3I/ATLAS, os astrônomos esperam que ele fique visível novamente em breve, possivelmente ainda mais brilhante do que antes. A missão JUICE, da ESA, poderá investigar a pluma de gás e fornecer dados inéditos sobre cometas interestelares.

Cada observação adicional ajuda a compreender melhor como objetos de fora do Sistema Solar se comportam, oferecendo pistas sobre a formação de sistemas planetários e os processos químicos que moldam o Universo primitivo. O 3I/ATLAS, portanto, não é apenas um visitante, mas uma oportunidade única para desvendar mistérios cósmicos em tempo real.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.