Descoberta no Marrocos muda entendimento sobre campo magnético da Terra antiga

Rochas de 560 milhões de anos revelam ritmo oculto do magnetismo (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
(Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Por séculos, os cientistas acreditaram que as inversões do campo magnético da Terra ocorriam de forma totalmente aleatória e imprevisível. No entanto, uma pesquisa recente publicada na revista Science Advances mostra que essa visão pode estar equivocada. Rochas vulcânicas formadas há aproximadamente 560 milhões de anos, no sul do Marrocos, registram padrões de oscilações magnéticas rápidas, revelando que o campo magnético terrestre seguia ciclos mais regulares do que se imaginava.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Yale, utilizou minerais como magnetita e hematita presentes nas rochas para mapear o comportamento magnético antigo. As medições detalhadas indicam que o campo magnético alternava entre enfraquecimento e reorganização, em intervalos de milhares de anos, muito mais curtos do que o previamente estimado.

  • Campo magnético da Terra apresentava padrão cíclico, não aleatório;
  • Mudanças magnéticas registradas em rochas do Ediacarano;
  • Polos magnéticos invertiam-se rapidamente, em milhares de anos;
  • Alterações ligadas à formação do núcleo interno sólido;
  • Descoberta auxilia na compreensão da evolução tectônica e magnética.

Camadas rochosas como memórias do planeta

O período Ediacarano sempre intrigou os geólogos por seu campo magnético instável, considerado até dez vezes mais fraco que o atual. As rochas analisadas revelam que, mesmo diante de fraquezas temporárias, o campo magnético buscava equilíbrio, oscilando repetidamente antes de retornar a posições anteriores. Essa descoberta desafia hipóteses antigas que atribuíam mudanças magnéticas a movimentos continentais extremamente rápidos, apontando, na verdade, para processos internos do planeta.

Professor David Evans durante trabalho de campo no Marrocos (Imagem: Universidade de Yale/ Divulgação)
Professor David Evans durante trabalho de campo no Marrocos (Imagem: Universidade de Yale/ Divulgação)

O mapeamento em alta resolução das camadas rochosas, aliado a novas técnicas estatísticas, permitiu detectar variações sutis que passavam despercebidas em análises tradicionais, oferecendo uma visão inédita sobre a evolução do magnetismo terrestre.

Reorganização do núcleo e implicações para a vida

Os dados sugerem que o núcleo externo líquido da Terra, composto por ferro e níquel, passava por uma reorganização durante o Ediacarano. Esse processo provavelmente foi impulsionado pela formação do núcleo interno sólido, liberando energia suficiente para gerar oscilações magnéticas periódicas. Eventualmente, o campo se estabilizou, tornando-se mais forte e constante, o que foi crucial para proteger o planeta da radiação solar e possibilitar a evolução da vida complexa.

Além disso, os pesquisadores levantam a possibilidade de que padrões semelhantes tenham ocorrido em outras eras geológicas, como o Devoniano e o Jurássico Superior, sugerindo um ciclo magnético de longo prazo. Essa perspectiva abre novas oportunidades para reconstruir a história tectônica e magnética da Terra de forma contínua, cobrindo bilhões de anos.

Nova visão sobre a evolução do planeta

Essa descoberta redefine nosso entendimento sobre a dinâmica interna do planeta, mostrando que o campo magnético terrestre segue regras próprias, não sendo um fenômeno caótico. Com essa análise, cientistas podem criar modelos mais precisos da tectônica de placas e do comportamento magnético, conectando registros antigos a eventos recentes. Em resumo, entender essas oscilações é fundamental para compreender o passado, o presente e o futuro da Terra.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.