Asteroide colossal deixou marcas escondidas na Austrália e só agora foram vistas

Esferas de vidro revelam impacto de asteroide há 11 milhões de anos (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)
Esferas de vidro revelam impacto de asteroide há 11 milhões de anos (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)

Um novo estudo publicado na revista Earth and Planetary Science Letters revelou uma descoberta surpreendente no coração do deserto australiano: microscópicas esferas de vidro formadas há cerca de 11 milhões de anos. Esses fragmentos, batizados de ananguites, são vestígios de um impacto de asteroide até então desconhecido, um evento tão poderoso que lançou material fundido a milhares de quilômetros da cratera de origem, que ainda permanece oculta sob camadas de erosão e tempo.

Os pesquisadores das universidades Curtin (Austrália) e Aix-Marseille (França) analisaram antigas amostras e encontraram evidências químicas e isotópicas que apontam para uma colisão cósmica de grande escala. Essa descoberta não apenas amplia o número de eventos de impacto conhecidos, mas também reescreve parte da história geológica recente da Terra.

Principais destaques do estudo:

  • Formação dos ananguites há aproximadamente 11 milhões de anos;
  • Materiais pertencem à rara classe dos tektites ou “vidros de impacto”;
  • Impacto possivelmente ocorreu em região vulcânica do Pacífico ocidental;
  • Campo de dispersão com cerca de 900 km de extensão no centro-sul australiano;
  • Cratera original pode ter sido apagada por erosão ou confundida com estruturas vulcânicas.

Vestígios invisíveis de uma colisão colossal

Os tektites são materiais gerados quando um asteroide atinge a Terra com energia suficiente para derreter instantaneamente o solo e lançá-lo à atmosfera. Durante a queda, o material resfriado solidifica-se em pequenas esferas de vidro natural, verdadeiros registros minerais de um evento cósmico. Até hoje, a ciência conhecia apenas cinco campos globais desse tipo, distribuídos entre a Ásia, África e América. A descoberta das ananguites cria um sexto campo, o primeiro totalmente localizado na Austrália.

Fragmentos cósmicos australianos expõem colisão esquecida na história da Terra (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)
Fragmentos cósmicos australianos expõem colisão esquecida na história da Terra (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)

Com uma composição andesítica e teores incomuns de ferro, cálcio e magnésio, essas esferas indicam um impacto independente de qualquer outro evento conhecido. A nova datação, baseada em isótopos de argônio, confirmou a idade de 10,76 milhões de anos, descartando relação com o famoso campo australásico, formado há apenas 780 mil anos.

Reescrevendo a história dos impactos na Terra

A relevância do achado vai muito além da geologia australiana. Cada novo campo de tektites representa uma janela para o passado do planeta, ajudando a compreender a frequência e a intensidade das colisões cósmicas que moldaram a crosta terrestre. Além disso, reforça a hipótese de que impactos significativos podem ter ocorrido com mais frequência do que se imaginava, mas deixaram poucos rastros visíveis devido à erosão e à dinâmica tectônica.

Esses fragmentos microscópicos atuam como “cápsulas do tempo” geológicas, preservando informações sobre a composição da crosta terrestre e as condições do impacto. A análise detalhada das ananguites poderá, no futuro, ajudar os cientistas a localizar a cratera desaparecida e aprimorar modelos de defesa planetária contra possíveis colisões futuras.

Ao revelar um evento que passou despercebido por milhões de anos, o estudo mostra que a história da Terra ainda guarda segredos cósmicos à espera de serem desvendados.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.