Cientistas finalmente detectam ondas magnéticas que aquecem a coroa solar

DKIST detecta ondas de Alfvén e explica aquecimento extremo do Sol (Imagem: berkay08/ Canva Pro)
DKIST detecta ondas de Alfvén e explica aquecimento extremo do Sol (Imagem: berkay08/ Canva Pro)

A atmosfera do Sol, conhecida como coroa solar, sempre intrigou os cientistas. Curiosamente, essa camada externa é muito mais quente que a própria superfície do Sol, atingindo temperaturas que superam milhões de graus Celsius, enquanto a fotosfera, a “superfície visível”, tem apenas cerca de 5.500 °C. Durante décadas, essa diferença paradoxal desafiou explicações científicas.

Agora, avanços tecnológicos com o Telescópio Solar Daniel K. Inouye (DKIST), o maior telescópio solar terrestre, trouxeram pistas importantes. Observações de altíssima resolução permitiram pela primeira vez detectar ondas magnéticas, conhecidas como ondas de Alfvén, que podem ser a chave para entender o aquecimento extremo da coroa solar.

Ondas magnéticas são o motor oculto da coroa solar

O estudo publicado na Nature Astronomy destaca como essas ondas transferem energia do Sol para sua atmosfera externa. Entre os pontos principais:

  • As ondas de Alfvén consistem em torções do campo magnético, movimentando o plasma solar de forma alternada;
  • Elas aparecem como padrões distintos nos efeitos Doppler, detectados como variações de frequência da luz emitida pelo Sol;
  • Observações sugerem que essas ondas estão presentes continuamente e não se restringem a regiões específicas da coroa.

Esses achados indicam que as ondas carregam uma quantidade significativa de energia, possivelmente suficiente para explicar pelo menos metade do aquecimento da coroa solar.

O papel da tecnologia avançada

Ondas magnéticas revelam segredo do intenso calor da coroa solar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Ondas magnéticas revelam segredo do intenso calor da coroa solar (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O DKIST e seu Espectropolarímetro Criogênico de Infravermelho Próximo (Cryo-NIRSP) foram essenciais para essas descobertas. Com um espelho de 4 metros e resolução inédita, o telescópio fornece imagens limpas e detalhadas do movimento do plasma, algo que instrumentos anteriores não conseguiam capturar.

Essa tecnologia permitiu mapear:

  • Os movimentos da coroa solar;
  • Mudanças sutis no plasma;
  • A presença contínua de ondas de Alfvén.

Esses dados consolidam a hipótese de que o aquecimento da coroa solar não depende apenas de processos magnéticos conhecidos como reconexão magnética, mas também do transporte de energia pelas ondas.

Implicações para o estudo solar e Astronomia

Além de resolver um mistério centenário, a descoberta influencia a compreensão sobre:

  • Vento solar: fluxos de gás superenergizado que atingem até 1,6 milhão de km/h;
  • Radiação solar: impacto na luz emitida pelo Sol e por outras estrelas;
  • Previsões espaciais: melhor fundamentação para modelos de clima espacial e evolução de sistemas planetários.

A pesquisa evidencia que ondas magnéticas e reconexão magnética atuam conjuntamente, fornecendo energia e moldando o comportamento da coroa solar. Entender a proporção entre esses mecanismos será crucial para futuras missões espaciais e previsões do Sol.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.