A atmosfera do Sol, conhecida como coroa solar, sempre intrigou os cientistas. Curiosamente, essa camada externa é muito mais quente que a própria superfície do Sol, atingindo temperaturas que superam milhões de graus Celsius, enquanto a fotosfera, a “superfície visível”, tem apenas cerca de 5.500 °C. Durante décadas, essa diferença paradoxal desafiou explicações científicas.
Agora, avanços tecnológicos com o Telescópio Solar Daniel K. Inouye (DKIST), o maior telescópio solar terrestre, trouxeram pistas importantes. Observações de altíssima resolução permitiram pela primeira vez detectar ondas magnéticas, conhecidas como ondas de Alfvén, que podem ser a chave para entender o aquecimento extremo da coroa solar.
Ondas magnéticas são o motor oculto da coroa solar
O estudo publicado na Nature Astronomy destaca como essas ondas transferem energia do Sol para sua atmosfera externa. Entre os pontos principais:
- As ondas de Alfvén consistem em torções do campo magnético, movimentando o plasma solar de forma alternada;
- Elas aparecem como padrões distintos nos efeitos Doppler, detectados como variações de frequência da luz emitida pelo Sol;
- Observações sugerem que essas ondas estão presentes continuamente e não se restringem a regiões específicas da coroa.
Esses achados indicam que as ondas carregam uma quantidade significativa de energia, possivelmente suficiente para explicar pelo menos metade do aquecimento da coroa solar.
O papel da tecnologia avançada

O DKIST e seu Espectropolarímetro Criogênico de Infravermelho Próximo (Cryo-NIRSP) foram essenciais para essas descobertas. Com um espelho de 4 metros e resolução inédita, o telescópio fornece imagens limpas e detalhadas do movimento do plasma, algo que instrumentos anteriores não conseguiam capturar.
Essa tecnologia permitiu mapear:
- Os movimentos da coroa solar;
- Mudanças sutis no plasma;
- A presença contínua de ondas de Alfvén.
Esses dados consolidam a hipótese de que o aquecimento da coroa solar não depende apenas de processos magnéticos conhecidos como reconexão magnética, mas também do transporte de energia pelas ondas.
Implicações para o estudo solar e Astronomia
Além de resolver um mistério centenário, a descoberta influencia a compreensão sobre:
- Vento solar: fluxos de gás superenergizado que atingem até 1,6 milhão de km/h;
- Radiação solar: impacto na luz emitida pelo Sol e por outras estrelas;
- Previsões espaciais: melhor fundamentação para modelos de clima espacial e evolução de sistemas planetários.
A pesquisa evidencia que ondas magnéticas e reconexão magnética atuam conjuntamente, fornecendo energia e moldando o comportamento da coroa solar. Entender a proporção entre esses mecanismos será crucial para futuras missões espaciais e previsões do Sol.

