Gramados urbanos ajudam a medir emissões de carbono nas cidades

Gramados urbanos ajudam a medir emissões de CO₂ em cidades (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Gramados urbanos ajudam a medir emissões de CO₂ em cidades (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

À medida que as cidades buscam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, surge a necessidade de ferramentas precisas para monitorar o progresso. Uma pesquisa recente da Universidade da Califórnia, Irvine, demonstra que a análise de radiocarbono em gramados pode revelar padrões de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis, oferecendo uma visão inédita sobre a poluição urbana.

O método utiliza gramados cultivados como “sensores naturais”, já que as plantas absorvem o CO₂ atmosférico durante seu crescimento. Isso permite gerar mapas de alta resolução das emissões, ajudando governos locais a avaliar se suas políticas de descarbonização estão funcionando.

  • Medições contínuas: amostras coletadas regularmente representam o crescimento recente da grama;
  • Monitoramento espacialmente sensível: captura variações de CO₂ entre bairros e regiões urbanas;
  • Comparação com medições atmosféricas: valida a eficácia do método;
  • Aplicações futuras: pode ser usado em cidades sem infraestrutura complexa de monitoramento.

Como funciona a análise de radiocarbono em gramados

O princípio é simples: o radiocarbono (C-14) presente na grama indica a quantidade de CO₂ derivado de combustíveis fósseis, pois o carbono fóssil não contém C-14. Ao medir esse elemento nas folhas recém-cortadas, os pesquisadores conseguem inferir a concentração de emissões urbanas.

Para garantir precisão, a coleta foca na parte superior da grama aparada a cada uma ou duas semanas, o que reflete aproximadamente duas semanas de crescimento recente. Essa abordagem cria um período de referência consistente, permitindo comparações confiáveis com os dados atmosféricos de CO₂.

Resultados e descobertas em Los Angeles

Radiocarbono na grama revela poluição por combustíveis fósseis (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Radiocarbono na grama revela poluição por combustíveis fósseis (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Testes realizados na região metropolitana de Los Angeles, marcada por bacias cercadas por montanhas, mostraram que o método consegue capturar com precisão os domos urbanos de dióxido de carbono, refletindo o acúmulo de emissões típico da cidade.

O estudo também se baseou em pesquisas realizadas durante a pandemia de COVID-19, quando voluntários coletaram gramíneas em suas casas. Esse levantamento mostrou uma queda significativa nas emissões de combustíveis fósseis nos primeiros dias da pandemia, seguida por aumento quando o trânsito voltou à normalidade.

Perspectivas e aplicação em outras cidades

Embora os resultados sejam promissores, ainda é necessário testar o método em locais com condições meteorológicas diferentes, onde o transporte eólico de gases é mais intenso. No entanto, a técnica apresenta vantagens claras:

  • Fornece informações detalhadas sobre emissões em áreas urbanas;
  • Auxilia governos na avaliação de políticas climáticas locais;
  • Pode ser replicada em cidades com pouca infraestrutura de monitoramento.

A análise de radiocarbono em gramados surge, assim, como uma ferramenta inovadora para medir poluição urbana, oferecendo dados valiosos para decisões ambientais e estratégias de mitigação do aquecimento global.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.