Novas pesquisas publicadas na revista Science revelam que chimpanzés possuem habilidades cognitivas mais sofisticadas do que se acreditava. O estudo mostra que esses primatas conseguem revisar crenças com base em novas evidências, característica fundamental do pensamento racional, semelhante ao observado em crianças de quatro anos.
Durante os experimentos realizados no Santuário de Chimpanzés da Ilha de Ngamba, em Uganda, os animais foram apresentados a duas caixas, uma contendo alimento. Inicialmente, recebiam uma dica preliminar indicando qual caixa continha a recompensa, seguida de evidências mais confiáveis apontando para a outra caixa. Os chimpanzés frequentemente mudavam suas escolhas conforme a nova informação, demonstrando raciocínio flexível e análise de probabilidades.
Principais pontos do estudo:
- Revisão de crenças baseada em evidências novas;
- Raciocínio comparável ao de crianças de 4 anos;
- Estratégias de decisão analisadas via modelagem computacional;
- Comportamento controlado para descartar instintos ou respostas automáticas.
Não se trata apenas de instinto

Para garantir que o comportamento fosse resultado de raciocínio real e não de instinto, os pesquisadores aplicaram experimentações controladas e modelagem computacional. Esses testes descartaram explicações simples, como reagir apenas à dica mais recente ou seguir sinais óbvios.
O resultado mostrou que os chimpanzés adotam estratégias racionais de revisão de crenças, avaliando e reorganizando informações de forma deliberada, semelhante ao processo cognitivo humano inicial.
Implicações para a ciência e educação
O estudo amplia a compreensão sobre a cognição em primatas e desafia a ideia de que a racionalidade é exclusiva dos humanos. Entre os possíveis impactos estão:
- Educação infantil: repensar como crianças constroem conhecimento;
- Inteligência artificial: criar algoritmos inspirados em raciocínio natural;
- Neurociência comparativa: mapear habilidades cognitivas em diferentes espécies.
Próximos passos na pesquisa

A equipe planeja aplicar experimentos semelhantes em crianças de 2 a 4 anos, para comparar como humanos e chimpanzés revisam crenças. Futuramente, a pesquisa poderá se expandir para outros primatas, construindo um mapa evolutivo das habilidades cognitivas, destacando como raciocínio e tomada de decisão se desenvolveram ao longo do tempo.
Este estudo reforça que chimpanzés não apenas aprendem com a experiência, mas também podem ajustar decisões de forma estratégica frente a novas informações. Essa descoberta fornece insights valiosos para ciência cognitiva, educação e tecnologia, mostrando que o pensamento racional é mais antigo e compartilhado entre espécies do que se imaginava.

