Experimento inédito na Amazônia mostra como floresta pode reagir ao CO2

Amazônia testa futuro climático com CO2 em experimento inovador (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Amazônia testa futuro climático com CO2 em experimento inovador (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A Amazônia, maior floresta tropical do planeta, tornou-se palco de um experimento inédito que promete revelar como o bioma pode reagir às mudanças climáticas. No coração da floresta, próximo a Manaus, pesquisadores implementaram o AmazonFACE (Free-Air CO2 Enrichment), uma espécie de “máquina do tempo” capaz de simular a atmosfera futura, bombardeando o dossel das árvores com níveis projetados de dióxido de carbono (CO2).

O objetivo é compreender a capacidade da floresta de se adaptar a uma atmosfera em transformação, fornecendo dados cruciais para políticas ambientais, especialmente durante a COP30, a conferência climática da ONU em Belém.

Principais pontos do projeto:

  • Seis anéis sobre o dossel controlam áreas de 50 a 70 árvores maduras;
  • Três anéis recebem CO2 adicional, simulando cenários futuros de emissão;
  • Os outros anéis funcionam como controle, permitindo comparação precisa;
  • Sensores registram respostas da floresta a cada 10 minutos, incluindo absorção de CO2 e emissão de oxigênio e vapor de água.

Como o AmazonFACE funciona

Projeto AmazonFACE simula atmosfera futura e analisa adaptação da floresta (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Projeto AmazonFACE simula atmosfera futura e analisa adaptação da floresta (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A inovação do AmazonFACE está na sua capacidade de criar microclimas artificiais sem interromper o ambiente natural. Cada anel, sustentado por torres de aço, libera CO2 em concentrações projetadas para 2050 ou 2060, permitindo observar a reação das árvores gigantes e da vegetação circundante.

Diferenciais do projeto:

  • Primeira aplicação em floresta tropical natural de grande porte;
  • Medição contínua da resposta das folhas à radiação solar, chuva e tempestades;
  • Capacidade de criar simulações futuras do ciclo de carbono, essencial para modelos climáticos globais.

Esses experimentos oferecem uma oportunidade única de entender os limites de resiliência da floresta, bem como as alterações no balanço de gases que afetam diretamente o clima regional e global.

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Impactos para ciência e políticas ambientais

Floresta tropical se torna laboratório vivo para estudar mudanças climáticas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Floresta tropical se torna laboratório vivo para estudar mudanças climáticas (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A Amazônia desempenha papel crucial na regulação climática mundial, e sua preservação é estratégica para conter os efeitos do aquecimento global. Com o AmazonFACE, cientistas poderão:

  • Avaliar como níveis crescentes de CO2 alteram a fotossíntese e crescimento das árvores;
  • Identificar mudanças na biodiversidade vegetal e nas interações ecológicas;
  • Fornecer dados concretos para planejamento de políticas públicas e mitigação de emissões.

Além disso, o projeto conecta ciência de ponta à tomada de decisão global, contribuindo para estratégias discutidas em conferências climáticas internacionais.

A Amazônia como referência global

Enquanto experiências semelhantes já ocorrem em florestas temperadas, o AmazonFACE é pioneiro nos trópicos, oferecendo insights sobre como grandes ecossistemas respondem ao aumento de CO2. A capacidade de simular e monitorar o futuro climático em escala real transforma a floresta em um laboratório vivo, essencial para entender os impactos das mudanças atmosféricas nas próximas décadas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.