A ideia de que as plantas se comunicam pode parecer saída de um filme de ficção, mas a ciência tem demonstrado que elas trocam informações reais, e vitais, com suas vizinhas. Pesquisas recentes com a Plantago asiatica, também conhecida como banana-da-terra japonesa, revelam que essa troca de sinais é essencial para enfrentar o estresse salino, um dos grandes desafios da agricultura moderna.
O estudo, publicado na revista Plant Signaling & Behavior, investigou como essas plantas conseguem se “avisar” sobre mudanças ambientais, tanto acima quanto abaixo do solo, coordenando respostas para evitar danos causados pela salinidade.
Como as plantas trocam informações
As vias de comunicação vegetal são surpreendentemente complexas. As plantas utilizam:
- Compostos orgânicos voláteis, liberados no ar, que funcionam como mensagens químicas;
- Redes subterrâneas de raízes e fungos, capazes de transmitir sinais bioquímicos entre indivíduos;
- Sinais genéticos específicos, que podem tornar a comunicação mais eficaz entre plantas aparentadas.
Esses mecanismos permitem que uma planta “avise” a outra sobre estresse hídrico, falta de nutrientes ou excesso de sal no solo. O resultado é uma resposta coordenada que aumenta as chances de sobrevivência do grupo.
Estudo revela cooperação entre parentes vegetais

O grupo de pesquisa liderado por Akira Yamawo, da Universidade de Kyoto, analisou populações geneticamente distintas da Plantago asiatica de diferentes regiões do Japão. As plantas expostas ao sal enviaram sinais a suas vizinhas, que, mesmo sem contato direto com a solução salina, fecharam seus estômatos, pequenos poros nas folhas responsáveis pela transpiração e troca gasosa, em resposta ao alerta recebido.
Curiosamente, a comunicação subterrânea foi mais eficiente entre plantas geneticamente próximas, como as oriundas da mesma população. Isso indica que o parentesco genético influencia na troca de metabólitos pelas raízes, tornando a resposta coletiva mais rápida e eficaz.
Conexão aérea e subterrânea: dois sistemas, uma rede
Enquanto as vias aéreas transmitiram sinais de estresse de forma mais geral, os sinais subterrâneos se mostraram seletivos, fortalecendo a comunicação entre “parentes próximos”. Essa combinação de redes sugere que as plantas mantêm um sistema integrado de alerta, que utiliza tanto o ar quanto o solo como canais de informação.
Impactos para a agricultura e o futuro das colheitas
Compreender a comunicação entre plantas abre novas possibilidades para a agricultura sustentável. Se as culturas agrícolas também forem capazes de compartilhar informações sobre o ambiente, será possível desenvolver sistemas de plantio que melhorem a resistência ao estresse salino, hídrico e térmico.
Além disso, explorar esses mecanismos pode levar à criação de cultivos mais cooperativos, capazes de reduzir perdas e aumentar a produtividade, especialmente em solos degradados ou de alta salinidade.
A descoberta reforça que o mundo vegetal está longe de ser passivo. As plantas não apenas crescem e competem, elas se comunicam, cooperam e se adaptam juntas. Entender esse diálogo invisível pode ser a chave para enfrentar os desafios alimentares e climáticos do futuro, transformando o modo como vemos e cultivamos a vida na Terra.

