Bactéria desconhecida transforma restos de comida em energia limpa

Micróbio transforma restos de comida em energia limpa e renovável (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Micróbio transforma restos de comida em energia limpa e renovável (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Todos os anos, milhares de toneladas de resíduos alimentares chegam a unidades de processamento, mas o que poucos percebem é que bilhões de micróbios entram em ação para transformá-los em gás natural renovável (GNR). Pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC) identificaram um novo micróbio, pertencente à família Natronincolaceae, que desempenha papel crucial na produção de metano a partir desses resíduos.

O processo acontece dentro de digestores anaeróbicos, que criam um ambiente sem oxigênio, ideal para a cooperação microbiana:

  • Microrganismos iniciais degradam restos alimentares em açúcares, aminoácidos e ácidos graxos;
  • Outros micróbios transformam esses compostos em ácidos orgânicos, especialmente o ácido acético;
  • Finalmente, produtores de metano consomem o ácido acético, gerando metano, que é refinado em energia utilizável.

O micróbio recém-descoberto se destaca por tolerar altos níveis de amônia, que normalmente inibiriam outros produtores de metano, garantindo que a produção de energia continue mesmo em condições desafiadoras.

Como isso muda a gestão de resíduos

Bactéria recém-descoberta produz metano a partir de resíduos alimentares (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Bactéria recém-descoberta produz metano a partir de resíduos alimentares (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

A descoberta ajuda a explicar por que alguns digestores falham enquanto outros permanecem ativos. Além disso, abre caminho para projetos mais eficientes de biogás, capazes de lidar com resíduos ricos em proteínas sem interromper a produção de metano.

A equipe utilizou uma técnica de marcação molecular, rastreando o carbono dentro das proteínas microbianas para identificar exatamente quais organismos estão produzindo metano. Esse método permite revelar micróbios invisíveis que desempenham funções essenciais, inclusive em processos ambientais complexos.

Potencial para além do biogás

Os pesquisadores também aplicam essa abordagem no estudo de micróbios que degradam microplásticos nos oceanos, mostrando que organismos minúsculos podem ter um papel fundamental na gestão ambiental em escala global.

Cada vez que restos de alimentos são descartados ou enviados para compostagem, eles não apenas retornam à terra, mas alimentam microrganismos que geram energia limpa, mostrando como a natureza pode ser parceira na transição para energias renováveis e sustentáveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.