A missão Europa Clipper, da NASA, está prestes a protagonizar um acontecimento científico raro. Entre 30 de outubro e 6 de novembro, a sonda poderá interceptar partículas da cauda iônica do cometa interestelar 3I/ATLAS, sem necessidade de desviar sua trajetória rumo a Júpiter. Este alinhamento oferece a oportunidade de estudar material de fora do Sistema Solar, algo que até hoje depende de missões específicas ou observações indiretas.
O encontro potencial foi previsto por cientistas usando o software Tailcatcher, que simula a interação entre o vento solar e as caudas de cometas.
Principais características do alinhamento e da oportunidade:
- Trajetória da Europa Clipper se alinha com o Sol e a cauda iônica do cometa;
- Partículas carregadas podem atingir a sonda sem alterar sua rota;
- Permite analisar a composição química do cometa interestelar;
- Comparações com cometas do Sistema Solar podem revelar diferenças ou semelhanças nos processos de formação planetária.
Caudas cometárias como cápsulas do tempo

Cometas são compostos por gelo, rocha e poeira, liberando gases ao se aproximarem do Sol. A atividade cria duas caudas:
- Cauda de poeira: segue a trajetória do cometa;
- Cauda iônica: empurrada pelo vento solar, sempre aponta na direção oposta ao Sol e pode ser interceptada por sondas espaciais.
Estudar os íons dessa cauda permite compreender melhor as condições iniciais da formação de sistemas planetários e analisar elementos como moléculas de água ou compostos mais pesados.
Monitoramento e desafios
O sucesso da medição depende das condições do vento solar, que precisa soprar na direção correta e com intensidade suficiente para transportar partículas até a sonda. A Europa Clipper, atualmente a mais de 300 milhões de km do Sol, poderá ainda assim capturar essas partículas graças à geometria favorável do alinhamento.
Além da Clipper, a sonda Hera, da ESA, também poderá cruzar o vento solar com íons do 3I/ATLAS, mas não possui instrumentos capazes de medir partículas carregadas ou campos magnéticos.
O encontro acidental com a cauda do 3I/ATLAS mostra que sondas já em missão podem contribuir para a análise de objetos interestelares. Experimentos como este abrem caminhos inéditos para estudar a composição da matéria fora do Sistema Solar, ampliando o entendimento sobre a formação de sistemas planetários em nossa galáxia.

