Sonda da NASA terá oportunidade inédita de coletar material do cometa 3I/ATLAS

Europa Clipper pode coletar partículas do cometa interestelar 3I/ATLAS (Imagem: NASA/JPL-Caltech)
Europa Clipper pode coletar partículas do cometa interestelar 3I/ATLAS (Imagem: NASA/JPL-Caltech)

A missão Europa Clipper, da NASA, está prestes a protagonizar um acontecimento científico raro. Entre 30 de outubro e 6 de novembro, a sonda poderá interceptar partículas da cauda iônica do cometa interestelar 3I/ATLAS, sem necessidade de desviar sua trajetória rumo a Júpiter. Este alinhamento oferece a oportunidade de estudar material de fora do Sistema Solar, algo que até hoje depende de missões específicas ou observações indiretas.

O encontro potencial foi previsto por cientistas usando o software Tailcatcher, que simula a interação entre o vento solar e as caudas de cometas.

Principais características do alinhamento e da oportunidade:

  • Trajetória da Europa Clipper se alinha com o Sol e a cauda iônica do cometa;
  • Partículas carregadas podem atingir a sonda sem alterar sua rota;
  • Permite analisar a composição química do cometa interestelar;
  • Comparações com cometas do Sistema Solar podem revelar diferenças ou semelhanças nos processos de formação planetária.

Caudas cometárias como cápsulas do tempo

Alinhamento raro permite à sonda estudar material de fora do Sistema Solar (Imagem: NASA/James Webb Space Telescope)
Alinhamento raro permite à sonda estudar material de fora do Sistema Solar (Imagem: NASA/James Webb Space Telescope)

Cometas são compostos por gelo, rocha e poeira, liberando gases ao se aproximarem do Sol. A atividade cria duas caudas:

  • Cauda de poeira: segue a trajetória do cometa;
  • Cauda iônica: empurrada pelo vento solar, sempre aponta na direção oposta ao Sol e pode ser interceptada por sondas espaciais.

Estudar os íons dessa cauda permite compreender melhor as condições iniciais da formação de sistemas planetários e analisar elementos como moléculas de água ou compostos mais pesados.

Monitoramento e desafios

O sucesso da medição depende das condições do vento solar, que precisa soprar na direção correta e com intensidade suficiente para transportar partículas até a sonda. A Europa Clipper, atualmente a mais de 300 milhões de km do Sol, poderá ainda assim capturar essas partículas graças à geometria favorável do alinhamento.

Além da Clipper, a sonda Hera, da ESA, também poderá cruzar o vento solar com íons do 3I/ATLAS, mas não possui instrumentos capazes de medir partículas carregadas ou campos magnéticos.

O encontro acidental com a cauda do 3I/ATLAS mostra que sondas já em missão podem contribuir para a análise de objetos interestelares. Experimentos como este abrem caminhos inéditos para estudar a composição da matéria fora do Sistema Solar, ampliando o entendimento sobre a formação de sistemas planetários em nossa galáxia.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.