O 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já registrado, continua a despertar a atenção da comunidade científica. Sua cauda, formada à medida que o cometa se aproxima do periélio, contém uma mistura de partículas de água e íons, oferecendo uma oportunidade única de estudo direto. Curiosamente, duas missões espaciais já em curso, a Hera e a Europa Clipper, cruzarão regiões próximas dessa cauda nas próximas semanas, possibilitando a coleta de dados sem que nenhuma tenha sido projetada para isso.
Apesar do curto prazo e da complexidade, este acaso representa uma chance histórica de analisar a composição iônica e os efeitos do vento solar sobre um cometa interestelar.
Janela de oportunidade das espaçonaves

As janelas para possíveis observações são:
- Hera: entre 25 de outubro e 1º de novembro;
- Europa Clipper: entre 30 de outubro e 6 de novembro.
Embora ambas estejam a milhões de quilômetros do eixo central da cauda, cerca de 8 milhões de km, isso ainda é suficiente para registrar íons espalhados por grandes distâncias.
Desafios e estratégias
O estudo pré-publicado no arXiv, aceito para as Notas de Pesquisa da Sociedade Astronômica Americana, utilizou o modelo Tailcatcher para estimar a trajetória dos íons na cauda. Este modelo considera:
- A curvatura das partículas causada pelo vento solar;
- A velocidade do vento solar, que afeta a dispersão de íons;
- A distância mínima de erro para passagem das naves.
No entanto, a incerteza dos dados do vento solar limita a precisão, tornando qualquer coleta dependente de ajustes rápidos e decisões imediatas da equipe da missão.
Potencial científico

Apesar de a Hera não possuir instrumentos de detecção de íons, a Europa Clipper conta com sensores de plasma e magnetômetros capazes de medir diretamente os íons e as alterações no campo magnético causadas pelo cometa.
Isso permite que os cientistas:
- Analise a composição da cauda do 3I/ATLAS;
- Estude como o vento solar interage com partículas cometárias;
- Coleta dados inéditos de um objeto interestelar sem intervenção humana direta.
Se bem-sucedida, essa iniciativa pode registrar as primeiras medições diretas da cauda de um cometa interestelar, oferecendo informações únicas sobre sua origem, composição e comportamento. Apesar de não ser o objetivo original das missões, a oportunidade demonstra como a ciência muitas vezes aproveita coincidências cósmicas para avançar o conhecimento humano.

