Cratera da Lua guarda materiais radioativos que podem alterar missões Artemis da NASA

Maior cratera da Lua revela KREEP e segredos do passado lunar (Imagem: NASA/GSFC/Arizona State University)
Maior cratera da Lua revela KREEP e segredos do passado lunar (Imagem: NASA/GSFC/Arizona State University)

A Lua, nosso satélite natural, ainda guarda mistérios impressionantes. Entre eles, a bacia do Polo Sul–Aitken (SPA), a maior cratera lunar, com 2.500 km de diâmetro e até 8 km de profundidade, está chamando atenção de cientistas por revelar material radioativo antigo que pode revolucionar futuras missões espaciais. Formada há mais de 4 bilhões de anos, essa cicatriz no lado oculto da Lua oferece uma oportunidade única de estudar os primórdios do sistema Terra-Lua.

Pesquisas recentes, publicadas na Nature, indicam que o impacto que criou a SPA ocorreu em um ângulo inesperado. Essa nova perspectiva altera nossa compreensão sobre a distribuição de elementos no satélite, incluindo o intrigante KREEP, mistura de potássio, elementos de terras raras e fósforo, restos do oceano de magma que cobria a Lua em sua infância.

Por que essa descoberta é importante?

  • O KREEP concentra-se na borda inferior da cratera, local ideal para futuras missões Artemis;
  • Amostras desse material podem revelar detalhes inéditos sobre o manto lunar e a formação da Lua após a colisão com o protoplaneta Theia;
  • A análise do KREEP permite entender o aquecimento do lado visível da Lua e o vulcanismo que formou suas planícies escuras.
Descoberta pode mudar missões Artemis e estudar o manto lunar (Imagem: NASA/GSFC/Arizona State University)
Descoberta pode mudar missões Artemis e estudar o manto lunar (Imagem: NASA/GSFC/Arizona State University)

O estudo sugere que, à medida que a crosta lunar engrossava no lado oculto, o oceano de magma foi “espremido” para o lado visível, concentrando os elementos produtores de calor. Esse processo explica o padrão de radioatividade detectado pela sonda Lunar Prospector, que orbitou a Lua entre 1998 e 1999, e reforça a hipótese de que a distribuição de KREEP não é aleatória, mas resultado de processos geológicos complexos.

Implicações para as missões Artemis

A NASA planeja que a Artemis III pouse na região do polo sul lunar, em uma área estratégica para coletar amostras do KREEP. Essa oportunidade permitirá, pela primeira vez, estudar fragmentos do manto lunar expostos pelo impacto. No entanto, atrasos e cortes orçamentários podem adiar o cronograma, enquanto programas internacionais, como o chinês Chang’e 6, já trouxeram amostras do lado oculto da Lua.

A exploração do material radioativo da SPA promete revolucionar nosso entendimento da evolução lunar, ajudando cientistas a desvendar não apenas como a Lua se formou, mas também como processos antigos moldaram sua superfície visível.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.