A capacidade de orientação dos morcegos pode ser ainda mais sofisticada do que se imaginava. Pesquisadores registraram pela primeira vez a atividade cerebral desses mamíferos em ambiente natural e descobriram que eles possuem uma bússola neural global, capaz de manter a direção mesmo sem referências celestes como a lua ou as estrelas. A revelação foi feita a partir de um experimento em uma ilha isolada no Oceano Índico, onde morcegos-da-fruta voaram livremente enquanto seus cérebros eram monitorados em tempo real.
Essa investigação trouxe uma nova compreensão sobre como mamíferos, possivelmente incluindo os humanos, processam o espaço ao redor. A descoberta sugere que existe no cérebro um sistema de navegação extremamente estável, que não depende de pistas visuais do céu, mas de um mapa interno baseado em referências do próprio ambiente.
Principais achados do estudo:
- Registro inédito de atividade neural em mamíferos livres na natureza;
- Bússola interna que mantém direção constante em qualquer ponto do território;
- Navegação independente da posição da lua e das estrelas;
- Uso provável de marcos geográficos e aprendizagem espacial gradual.
Um experimento fora do laboratório

A escolha da ilha remota possibilitou um cenário livre de interferências urbanas. Foram implantados dispositivos ultraleves nos morcegos, capazes de registrar neurônios individuais e rastrear seus movimentos por GPS. Após aclimatação, os animais foram soltos para voos noturnos de dezenas de minutos, enquanto os pesquisadores analisavam centenas de neurônios ligados à orientação espacial.
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Os resultados mostraram que grupos específicos de neurônios se ativavam sempre que a cabeça dos animais apontava para direções fixas, como norte ou sul, formando um sistema interno consistente em toda a extensão da ilha.
Uma bússola cerebral global
Ao contrário do que se pensava, essa bússola não se rearranja conforme a paisagem muda. Mesmo ao se deslocarem entre diferentes regiões da ilha, os neurônios mantiveram a mesma orientação absoluta, sugerindo um mecanismo cerebral ancorado em um referencial global.
Esse comportamento difere de sistemas que dependem exclusivamente de sinais magnéticos ou corpos celestes, pois permaneceram estáveis mesmo em noites sem visibilidade do céu.
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Aprendizagem e percepção do ambiente

Durante os primeiros voos, a atividade neural mostrou instabilidade, indicando que os morcegos aprendem o ambiente antes de estabilizar seu sistema de navegação. Isso sugere uso de elementos como rochas, relevos e pontos visuais do entorno, pistas que podem ser combinadas a sinais celestes apenas para calibragem inicial, e não como fonte principal de direção.
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As chamadas células de direção da cabeça são estruturas encontradas em diversas espécies e estão ligadas ao desenvolvimento cerebral básico. Compreender sua função em ambientes reais pode abrir caminhos para estudos sobre desorientação espacial em humanos e distúrbios neurológicos, como o Alzheimer.