A capacidade de acessar o DNA antigo preservado em museus está transformando a forma como compreendemos a história evolutiva da biodiversidade. A chamada museômica, que combina biologia molecular, genômica e bioinformática, possibilita desvendar informações genéticas de organismos coletados há décadas. Esse avanço oferece respostas a enigmas evolutivos e pode redefinir o status de conservação de espécies aparentemente perdidas.
Além de recuperar linhagens desaparecidas, essa abordagem permite avaliar com precisão os limites entre espécies próximas, evitando erros de classificação. Entre seus impactos mais relevantes estão:
- Reavaliação de espécies consideradas extintas ou raras;
- Correção de classificações taxonômicas infladas;
- Identificação de rotas evolutivas e vulnerabilidades ambientais;
- Apoio a estratégias de conservação com base genética.
Um novo olhar sobre coleções de museus
Durante muito tempo, exemplares preservados serviram apenas para comparações morfológicas. No entanto, com a extração de DNA histórico (hDNA), esses acervos ganham status de repositórios genéticos. O resgate de anfíbios como Boana cymbalum, desaparecida desde os anos 1960, demonstra que o material preservado pode revelar relações evolutivas ocultas e até reformular mapas de distribuição geográfica.
Casos semelhantes ocorreram com o complexo Dendropsophus, em que três espécies foram unificadas após análise genômica. Isso alterou sua avaliação de risco, passando de “dados insuficientes” para “pouco preocupante”, graças à ampliação de sua área reconhecida.
Desafios na recuperação de material degradado

A extração de DNA em coleções úmidas exige protocolos rigorosos. Muitos espécimes foram conservados em formol ou álcool instável, provocando degradações severas. Para contornar esses danos, são utilizadas:
- Técnicas de DNA de cadeia única;
- Enzimas de reparo molecular;
- Alinhamento com genomas de espécies próximas.
O processo é lento e meticuloso, mas permite posicionar geneticamente organismos extintos em árvores filogenéticas, elucidando como evoluíram e por que desapareceram.
Conservação genética e futuro da biodiversidade
Em biomas críticos como a Mata Atlântica, onde mais de 40% das espécies são endêmicas, compreender o passado evolutivo é essencial para promover políticas eficazes. Anfíbios, extremamente sensíveis à poluição e alterações climáticas, funcionam como indicadores ambientais. Por isso, proteger seu material genético é tão vital quanto preservar seus habitats.
O próximo passo da museômica está no DNA ambiental (aDNA), detectado em água, solo e plantas. Essa ferramenta pode identificar vestígios de populações remanescentes sem capturar indivíduos, ampliando as chances de reencontros com espécies dadas como extintas.