A descoberta de fosfina na atmosfera da anã marrom Wolf 1130C trouxe um novo olhar para a complexidade química do universo e reacendeu debates sobre possíveis sinais de vida extraterrestre, incluindo em Vênus.
Embora anãs marrons não sejam estrelas completas nem planetas, elas apresentam ambientes extremos que desafiam nosso entendimento sobre a formação e persistência de moléculas simples, como a fosfina.
Resumo do achado:
- Wolf 1130C é uma anã marrom antiga com condições atmosféricas únicas;
- A molécula fosfina (PH₃) foi detectada em sua atmosfera, indicando processos químicos não biológicos;
- Observações do James Webb Space Telescope (JWST) permitiram a identificação da molécula no infravermelho;
- A detecção levanta dúvidas sobre o uso da fosfina como bioassinatura confiável em outros planetas;
- Estudos futuros devem analisar reações químicas extremas em diferentes tipos de anãs marrons e exoplanetas.
Anãs marrons: intermediárias entre estrelas e planetas
As anãs marrons são objetos celestes formados pelo colapso de nuvens de gás interestelar, mas sem massa suficiente para sustentar a fusão de hidrogênio como ocorre em estrelas típicas.
Elas conseguem fundir deutério por curtos períodos, liberando calor que se movimenta em ciclos de convecção, aquecendo as camadas superiores. A superfície dessas estrelas “incompletas” pode variar de temperaturas próximas ao ambiente até cerca de 2.000 °C em exemplares mais jovens, e emite radiação infravermelha observável por telescópios espaciais, como o James Webb Space Telescope (JWST).
Esses objetos cósmicos fornecem um laboratório natural para estudar reações químicas que não ocorrem em estrelas convencionais, oferecendo pistas sobre processos atmosféricos em condições extremas.
A presença enigmática da fosfina

A fosfina (PH₃) é uma molécula simples formada por fósforo e hidrogênio, considerada na Terra como produto de processos biológicos. Sua detecção em Vênus em 2020 gerou entusiasmo, pois as condições daquele planeta destruiriam rapidamente a molécula, sugerindo produção contínua.
No entanto, a presença da mesma substância em Wolf 1130C, um ambiente não biológico, indica que reações químicas complexas podem gerar fosfina sem a necessidade de vida.
Observações do JWST em 23 anãs marrons de diferentes temperaturas não haviam detectado fosfina, mas Wolf 1130C, com aproximadamente 320 °C e baixo teor de metais, apresentou quantidades mensuráveis, alinhando-se parcialmente a modelos teóricos.
Ainda assim, não há modelo único que explique a presença da molécula em anãs marrons, Júpiter, Saturno e exoplanetas gasosos, levantando dúvidas sobre seu uso como bioassinatura confiável.
Implicações e próximos passos
A descoberta evidencia que a química atmosférica de objetos espaciais é mais complexa do que se imaginava, e que moléculas associadas à vida na Terra podem surgir por meios químicos ou físicos em contextos extraterrestres.
- Wolf 1130C é uma anã marrom antiga, possivelmente favorecendo a formação de fosfina;
- Observações espectroscópicas do JWST permitem identificar moléculas por assinaturas únicas no infravermelho;
- A detecção amplia a discussão sobre o uso de fosfina como bioassinatura em planetas e exoplanetas;
- Novos estudos são necessários para compreender processos químicos extremos fora da Terra;
- A ciência permanece cautelosa quanto à relação direta entre fosfina e vida extraterrestre.
Essa descoberta demonstra que investigações astrobiológicas devem considerar alternativas químicas e físicas, evitando conclusões precipitadas sobre vida fora da Terra. A busca por bioassinaturas confiáveis continua sendo um desafio, e cada observação adiciona camadas de complexidade ao nosso conhecimento do cosmos.