Fósseis de cérebros revelam como pterossauros e aves dominaram o voo

Moldes de crânios revelam cérebros adaptados ao voo. (Foto: Pixabay via Canva)
Moldes de crânios revelam cérebros adaptados ao voo. (Foto: Pixabay via Canva)

O voo é uma das conquistas mais impressionantes da evolução, e entender como surgiu exige olhar para além das asas. Estudos recentes mostram que pterossauros e aves desenvolveram adaptações neurológicas específicas que permitiram controlar movimentos complexos no ar. 

A análise de moldes intracranianos de fósseis, realizada com microtomografia computadorizada, revelou que estruturas cerebrais críticas foram moldadas muito antes da chegada das aves modernas. 

O estudo conduzido por Mario Bronzati e colaboradores, publicado na revista Current Biology, destaca convergências neuroanatômicas entre pterossauros e aves, evidenciando soluções evolutivas similares para o voo.

Cérebros globulares e visão aprimorada

Os pterossauros possuíam cérebros com formato globular, hemisférios expandidos e lobos ópticos desenvolvidos. Essas características eram essenciais para a navegação tridimensional, permitindo que enxergassem claramente durante o voo e capturassem presas com precisão. Diferentemente de aves, os pterossauros possuíam trato olfativo reduzido, indicando que a percepção visual era muito mais relevante que o olfato.

A região do cerebelo chamada flóculo mostrava desenvolvimento significativo, auxiliando no controle fino da cabeça e pescoço em resposta a estímulos sensoriais. Essa estrutura era fundamental para estabilizar a visão diante das vibrações provocadas pelo bater das asas membranosas.

Comparação com aves modernas

Pterossauros e aves compartilham avanços cerebrais. (Foto: Getty Images via Canva)
Pterossauros e aves compartilham avanços cerebrais. (Foto: Getty Images via Canva)

As aves, descendentes de dinossauros terópodes, apresentam cérebros maiores em relação ao corpo, mas compartilham com os pterossauros a expansão de áreas visuais e de coordenação motora.

Apesar das diferenças morfológicas nas asas, penas nas aves versus membranas nos pterossauros, ambos os grupos exibem adaptações cerebrais que facilitam o voo. Isso evidencia que a evolução do voo envolve não apenas mudanças anatômicas externas, mas também complexas transformações neuroanatômicas.

O papel dos ancestrais terrestres

Análises do lagerpetídeo Ixalerpeton polesinensis, ancestral dos pterossauros, indicam que hábitos tridimensionais, como subir em árvores, já exigiam cérebros capazes de processar informações visuais e motoras complexas. 

Esse tipo de comportamento pré-voo pode ter estabelecido a base neurológica para a conquista do ar, mostrando que exigências ambientais moldaram o cérebro antes do desenvolvimento das asas voadoras.

Técnicas modernas revelam detalhes do passado

O uso de microtomografia computadorizada permitiu reconstruções tridimensionais precisas dos cérebros fósseis, preservando a integridade das estruturas. 

Essa tecnologia, combinada com métodos quantitativos e qualitativos, possibilitou comparações detalhadas entre pterossauros, aves e ancestrais próximos, fornecendo uma visão mais clara da evolução cerebral associada ao voo.

Implicações da pesquisa

O estudo de Bronzati et al. mostra que a evolução do voo não depende apenas da anatomia das asas, mas também de adaptações cerebrais específicas. A convergência entre pterossauros e aves ilustra como diferentes linhagens podem desenvolver soluções semelhantes quando submetidas a desafios similares. 

Com mais fósseis analisados, será possível compreender com maior precisão como o cérebro se moldou para controlar movimentos complexos e coordenar habilidades essenciais para o voo.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.