Cientistas registram polvo gigante de sete braços a quase 1 km de profundidade 

Polvo de sete braços é flagrado a 700 metros de profundidade (Imagem: MBARI | Monterey Bay Aquarium Research Institute)
Polvo de sete braços é flagrado a 700 metros de profundidade (Imagem: MBARI | Monterey Bay Aquarium Research Institute)

Em um raro mergulho profundo na Baía de Monterey, pesquisadores capturaram imagens inéditas de um polvo gigante de sete braços, uma espécie pouco conhecida e observada apenas algumas vezes em décadas. Este encontro oferece informações valiosas sobre a biologia e hábitos alimentares de uma das criaturas mais intrigantes dos oceanos.

O Haliphron atlanticus, conhecido popularmente como polvo-de-sete-braços, é, na verdade, um octópode, mas os machos costumam esconder o oitavo braço especializado para reprodução, dando a impressão de possuir apenas sete. Esta característica, junto com seu tamanho impressionante, torna a espécie um verdadeiro mistério biológico.

Registro de um encontro raro

Haliphron atlanticus caça água-viva bioluminescente no oceano profundo (Imagem: MBARI | Monterey Bay Aquarium Research Institute)
Haliphron atlanticus caça água-viva bioluminescente no oceano profundo (Imagem: MBARI | Monterey Bay Aquarium Research Institute)

A filmagem foi realizada a aproximadamente 700 metros de profundidade, usando um veículo operado remotamente (ROV), mostrando o polvo manipulando uma água-viva bioluminescente, típica de águas profundas. Este comportamento reforça a compreensão sobre sua dieta predominantemente gelatinosa, que inclui:

  • Águas-vivas de diferentes espécies, algumas adaptadas à escuridão profunda;
  • Pequenos invertebrados gelatinosos, pouco conhecidos da ciência;
  • Possível consumo oportunista, aproveitando a fauna disponível na zona crepuscular.

Além disso, o registro atual confirma padrões observados em avistamentos anteriores, reforçando que o polvo gigante depende de presas gelatinosas, mesmo alcançando até 4 metros de comprimento e pesando cerca de 75 quilos, principalmente no caso das fêmeas, que são significativamente maiores que os machos.

Vida na zona crepuscular

O Haliphron atlanticus habita principalmente a zona crepuscular do oceano, entre 200 e 900 metros de profundidade, onde a luz solar é mínima. Nestes ambientes extremos, a espécie desenvolveu adaptações impressionantes, como a bioluminescência indireta através de presas capturadas, a camuflagem natural, aproveitando a pouca luminosidade, e estratégias de caça eficientes, mesmo com uma dieta predominantemente gelatinosa

A observação do polvo de sete braços em Monterey não apenas confirma sua distribuição geográfica, mas também amplia o conhecimento sobre a ecologia de predadores profundos. Estudos futuros poderão ajudar a compreender como espécies gigantes sobrevivem em habitats de baixa energia, desafiando conceitos tradicionais de ecossistemas marinhos.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.