Telescópio James Webb flagra estrelas em colisão explosiva no sistema do ‘deus serpente’

Telescópio James Webb flagra estrelas em colisão explosiva no sistema do 'deus serpente' (Foto: Canva/ Feito com IA)

Um espetáculo cósmico de tirar o fôlego foi recentemente capturado pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST): duas estrelas moribundas, em meio a uma espiral flamejante, lançam violentamente suas entranhas uma na outra.

O fenômeno acontece no sistema estelar Apep, situado a cerca de 8 mil anos-luz da Terra, dentro da nossa galáxia, a Via Láctea. O nome “Apep” não foi escolhido por acaso: ele homenageia o deus-serpente egípcio do caos e da destruição, isso porque a espiral de poeira que envolve as estrelas lembra uma serpente devorando a própria cauda.

Apep: mais caótico do que se imaginava

Inicialmente observado em 2018 com o Very Large Telescope, no Chile, o sistema parecia conter apenas uma estrela em colapso. No entanto, a nova imagem obtida com o infravermelho médio do JWST trouxe uma reviravolta científica: não se trata de uma estrela apenas, mas de duas estrelas do tipo Wolf-Rayet em colisão.

Imagem em cores artificiais da nebulosa Apep capturada pelo Telescópio James Webb (Crédito da imagem: Han et al./White et al./Dholakia; NASA/ESA)

Cabe ressaltar que essas estrelas são raríssimas e extremamente massivas, perdendo suas camadas externas enquanto expelem hélio, carbono e nitrogênio ionizados. Além disso, os dados revelaram a presença de uma terceira estrela, uma gigante mais estável, que está, literalmente, cavando uma cavidade na poeira criada pelas companheiras moribundas. Desse jeito, o sistema Apep torna-se um verdadeiro laboratório natural para estudar o ciclo de vida estelar.

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Por que isso importa para nós?

A importância desse fenômeno vai além da beleza visual. Isso porque as explosões das estrelas Wolf-Rayet geram poeira rica em carbono, o mesmo elemento que compõe boa parte do nosso corpo e dos planetas ao nosso redor. Vale destacar que essas estrelas terminam suas vidas em supernovas, espalhando os elementos pesados pelo universo.

Segundo o professor Benjamin Pope, coautor do estudo, “a violência da morte estelar cria quebra-cabeças que fariam sentido para Newton e Arquimedes, e é uma alegria científica resolvê-los e compartilhá-los”.

Portanto, estudar Apep não é apenas investigar uma colisão cósmica rara. É entender de onde viemos. Por isso, sistemas como esse são verdadeiras chaves para os mistérios da nossa própria existência.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.

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